segunda-feira, agosto 14, 2006
A hiperliberdade
Chego de férias. De um Gerês entalado entre o que arde e o que espera arder. Nestes dias quase não ouvi notícias. Passei os olhos pelos noticiários no dia em que a polícia londrina abortou uma série de atentados a aviões. Tenho um texto do Rui Tavares no Público, "Se queres julgar, compreende" na cabeça. Vou até à blogosfera ver se algum daqueles blogues que sigo com atenção pega na proposta de análise do Rui Tavares, que tem a grande qualidade de questionar um plano essencial para a forma como as democracias tratam as guerras onde se metem: o da comunicação, da argumentação, da retórica. Nada. Leio blogues, links, comentários. passo uma boa meia hora a enfrascar-me com a miséria das palavras. E apetecia-me tratar da desilusão como se fora uma ferida. Não posso. Como disse no outro dia num comentário, no Libano, em Israel morre-se sem escolher morrer, mas aqui, nas guerras que encenamos nas nossas prosas, há ainda rastos reconheciveis de actos de vontade. É claro que a vontade também já escasseia. Por curioso que seja muita da demonstração retórica que vejo construir-se depois da malfadada guerra dos cartoons, é o do pressunção de alguns quererem pensar que são livres e que os textos deles correspondem a actos de vontade. Só que se esquecem de um aspecto muito importante: hoje o nosso maior adquirido não é a liberdade, o sermos livres. Isso foi bom na Grécia, fez sentido na Revolução Francesa, na constituição dos Estados Unidos da América. Só que nós já não conseguimos ser livres como os eram os gregos ou os romanos ou como ainda persistem em sê-lo os estadounidenses. O nosso maior adquirido é a nossa possibilidade de pensarmos a nossa existência a partir do reconhecimento da existência do Outro. Entre a mesmificação e a alteridade,vivemos.
Não é só o hipertexto que nutre a condição blogosférica.
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2 comentários:
Joaquim, não dramatizes as nossas diferenças. Eu já volto
também reparei nesse texto Joaquim.
estive para postar uma parte.
é que penso da mesma maneira (compreender antes, e de preferncia sem julgar) mas não me parece é que chegue exactamente ao mesmo sítio.
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