sexta-feira, setembro 08, 2006

Marcha pelo Emprego: Trabalho temporário

O BE anda em marcha pelo emprego. Louçã, entusiasma-se e tira uma metáfora sobre a mafia para explicar a sem-escolha de um número crescente dos trabalhadores portugueses. Mais uma vez se vai confundir tudo e ganham todos os que não merecem ganhar. A começar pelo próprio Louçã, esse afortunado criador de frases-bomba. Vão ganhar também os Belmiros, os Carapatosos e os Paulo Teixeiras Pintos vitimizados pela ofensa de Louçã. Perde-se o quê, perdem quem? O Apicultor diz que se perde uma oportunidade de discutir o essencial: tudo nesta vida é hoje, dramaticamente precário.
Concordo totalmente com ele desde que se comece por discutir o próprio axioma. Tenho algumas dúvidas sobre a extensão da precariedade. Há coisas mais precárias do que outras. Tudo é precário mas os lucros da Sonae, do BCP e da Vodafone não são precários. São constantes ao longo dos tempos. O trabalho que lhes fornece esta mais valia é tendencialmente precário. Ora fica-se portanto na dúvida sobre a correlação entre essa condição e a necessidade de existirem condições específicas para a criação de riqueza. Fica-se quer dizer, fico. Ou seja, haverá muito economista que avalia a riqueza de um determinado país pela quantidade de riqueza que ele produz. Outros, mais escrupulosos dizem, pela forma como ele a produz. Nem uns nem outros me satisfazem totalmente: eu acredito naquela teoria económica que avalia a riqueza do país pela capacidade de redestribuir a riqueza que produz. Porque a quantidade de riqueza produzida diz-me pouco. O modo como ela é produzida releva da forma como está estruturada a actividade económica e claro, tem a sua importância. Mas só a forma como é redistribuida a riqueza produzida releva da cultura. Não há nenhuma forma de assistencialismo que consiga ser tão solidário como a acção cultural.
Isto sou eu a dizer o que sinto, a valorizar aquilo que para mim são as autênticas mais-valias de uma sociedade. Começo a estar um pouco farto de, para onde quer que me vire, encontrar respaldadas as mais diversas teorias de dominação do outro, seja a nível militar, financeiro, social, politico ou até mesmo cultural. A mais velha profissão do mundo é afinal a da exploração de um pelo seu semelhante.

3 comentários:

apicultor disse...

Pois é meu caro, há uns menos precários do que os outros, os Belmiros e quejandos estão defendidos, a globalização económica serve bem o que pretendem. o que eu queria é que se discutisse o andamento desta carruagem. Para onde vamos? Temos mesmo que ir por aí? O que é que isto custa e a quem?O que é que vai sobrar depois de uns anos de fronteiras abertas a produtos vindos de países que não tem as memas regras que nós?
Nunca em dias de minha vida, ouvi uma palavra do Dr Louçã sobre estes assuntos, e principalmente sobre os empresários que estão tramados, não os Belmiros, mas os outros todos.

Mónica (em Campanhã) disse...

às vezes a capacidade de trabalho das pessoas também é precária e os vínculos mais seguros alimentam a sua inércia. vejo muito disso no meu dia-a-dia de trabalho. também vejo capacidades de trabalho hercúleas, é certo, e essas nem sempre são poupadas à precaridade... é muito complicado.

produzir riqueza também pode ser uma ocupação precária: sabemos que a Belmiro a coisa correu bem e
é fácil agora acusá-lo de tanta coisa mas quantos não passam da fortuna à bancarrota (por inabilidade, por azar às vezes, nem sempre por gestão danosa)?

Carpinteiro disse...

'eu acredito naquela teoria económica que avalia a riqueza do país pela capacidade de redestribuir a riqueza que produz'

Concordo em absoluto. Os 20 mais pobres pelos 20 mais ricos - é um indicador em que estamos mal, os piores da europa parece-me, e isso é sintomático.

Já da iniciativa empresarial, que se louve, tivéssemos mais e estaríamos melhor! Os lucros cegos dos bancos é que já são outra conversa...