segunda-feira, outubro 30, 2006

Uma terrível doença

Estava no Circulo de Bellas Artes em Madrid a falar com um amigo recente. Naqueles jogos de auto-explicação que ocorrem sempre quando nos conhecemos de novo. Ele tem a minha idade e um filho também muito novo. Poupa-nos muito essa evidência comum. Disse-lhe: - A minha maior descoberta foi perceber que o tempo que ainda tenho para viver deverá ser única e exclusivamente para escrever, para o meu filho e para as pessoas que amo.
Ele olhou-me demoradamente. Criou-se ali um silêncio intrigante. Ele ganha coragem, pergunta:
- Tens alguma doença grave, terminal?
Sorri. Não, esclareci. E depois, mais tarde, quando preparava o trabalho para o grupo de teatro Andamento, onde começámos a construir uma história sobre um doente terminal, dei-me conta, a vida é a mais terrível doença terminal que nos é dado padecer.

4 comentários:

Elisa disse...

Pois. Viver mata. É aliás a única coisa de que morremos.
Gosto muito do que escreves tu, de dentro dessa doença terminal, a vida.
Beijo

Mary Lamb disse...

É terminal, claro, mas nada terrível...

Mónica (em Campanhã) disse...

este teu ângulo sobre as coisas: obrigada.

IPQ disse...

é verdade. a vida mata-nos, mas deixa-nos a certeza de que vivê-la, estar, partilhá-la com os que mais amamos é o que nos move e ns dá alento.
Gosto muito doque escreves.