sábado, dezembro 30, 2006

A execução de Saddam Hussein

Que um ditador seja julgado pelo próprio país que teve de suportar a sua tirania, parece-me apropriado e conforme aos princípios da justiça. É uma afronta divina que os tiranos possam morrer de velhice, como Pinochet.
O que não parece nem apropriado nem conforme aos princípios da justiça é que o empenhamento ocidental neste julgamento tenha mais a ver com o facto desta personagem sanguinária ter afrontado o poderio ocidental, do que pelo terror que provocou ao povo iraquiano. O que parece ainda pior é que esta personagem só se tenha tornado insuportavelmente sanguinária quando enfrentou o Ocidente.

3 comentários:

cbs disse...

ai dos vencidos...
a justiça dos vencedores nunca tem a "justa distancia".
Nada nisto me impressiona muito, aliás creio serem correntes as execuções no Iraque; é só mais uma.

Mas Jpn, julguei que estavas comigo nesta; o que me impressiona é a pena de morte, porque tem sempre um lado de vingança, senão dos vencedores, ao menos da sociedade.
Sejam os julgados ditadores ou não.

Paul Ricoeur perguntava em "Le juste" se devemos executar uma violação para castigar outra.
E distingue o castigo do perdão, pois o cstigo não altera o mal do acto criminoso, apenas acrescenta. E o perdão, só a vitima pode conceder, se quiser e for capaz.

Parece-me que concordas com isto...

JPN disse...

claro que concordo contigo, ainda por cima se vens tão bem acompanhado pelo Ricoeur. a minha segunda frase era irónica. sabes bem que não acredito nos deuses ou no modo como nos afrontam. embora, se acreditasse, senão exigisse mais deles, pedir-lhes-ía pelo menos isso: que não deixassem morrer os tiranos de velhice. talvez isso ajudasse a livrar a nossa humanidade do instinto de vingança, mesmo que disfarçada da presunção de justiça. embora, como tu, me impressione a pena de morte.

cbs disse...

:)
que a próxima translacção solar nos seja mais leve, a todos.
um abraço