sábado, dezembro 16, 2006

Hoje acordei assim

O que é que é verdadeiramente essencial à experiência humana? Quando muitas vezes nos entregamos a autênticos jogos florais sobre o princípio da vida, pergunto-me: qual seria para mim o patamar da não-vida? Em Se isto é um homem..., Primo Levi leva muito longe essa condição. O destroçar ético não tem ali, nos campos de concentração nazis (será que ainda vou a tempo de escapar aos tabalhos revisionistas sobre o Holocausto) paralelo. Ou se calhar tem, se calhar muitos dos nossos quotidianos vão mais longe e só esperam vez para que alguém, narrando, contando, nos mostre a monstruosidade dos nossos dias mais corriqueiros. De que é que não podíamos verdadeiramente prescindir? Pergunto-me isto revisitando ainda, mais uma vez, a entrevista que Alexandra Lucas Coelho fez a Luandino Vieira. Ela apanha-lhe o paradoxo: como é que aquele asceta consegue contemporizar com um homem como José Eduardo dos Santos? Como? Se respondéssemos a isso talvez estivéssemos a entrar adentro de algum dos mistérios da vida: não se trata de esperar que Luandino aplicasse ao luxo, ao fausto principesco da corte de José Eduardo dos Santos, o princípio ascético a que subordinou a sua vida. Não. Percebe-se em Luandino essa grandeza. Trata-se de pensar no que é que o leva a não dizer, com a mesma desenvoltura com que se desenlaça, que se a riqueza de um país nunca deveria ser a sua tragédia, a ganância e a avidez podem ter contornos verdadeiramente trágicos. Depois de um homem ter abdicado de quase tudo, até, muitas vezes, do escrever, há ali um patamar que ele não transpôe. Porquê?

1 comentário:

Agua disse...

Não vi a entrevista de Alexandra Lucas Coelho a Luandino Vieira, pode indicar-me onde a encontrar? ando tão (mal ) habituada e ver tudo nos blogs que esperava encontrar um link para a entrevista.