quinta-feira, dezembro 07, 2006

A persistência

Havia um sabor vago a sangue. Nas nossas bocas. Um selo da união dos nossos corpos, um prenúncio da fugacidade dos nossos encontros ou eu que mordi o lábio? Um sabor férreo impossível de esquecer. Comentaste o facto. E, sem me debruçar muito no que terias querido dizer com isso, tive a certeza que o sangue escorria dos nossos pensamentos, ensopava a roupa da cama e tornava trágica a nudez que despíamos. "Estás aqui.". Ter-te-ei dito. Odiei-me logo pela abstracção lírica. Depois porque parecia que te conhecia, embora soubesse que não. Para te fugir, fingi-me silenciosa. Para te perder. De propósito. Tínhamo-nos esvaído em sangue, afinal. Era daí que vinha o travo. Pouco ou nada mais tínhamos a perder. Nesse jogo de azar, a última coisa orgânica que deixei cair foi a possibilidade de (te) amar. O cumprimento das leis da natureza é o alívio das almas. Toda a cobra que perde a pele, traz uma nova por baixo.

1 comentário:

manhã disse...

o sabor a ferro do sangue, não é nunca suficiente o sangue que derramamos e depois parece que não sabemos fazer melhor, ou mais.