sexta-feira, janeiro 12, 2007

Confesso que não acho muito feliz esta mensagem. Sem dúvida que podemos caracterizar, à luz de uma determinada linha de pensamento, de hipocrisia social e politica muitas das bases da defesa do não. Ainda há pouco Ribeiro e Castro ao denunciar os cartazes do PS que referenciam a abstenção com a possibilidade de manutenção da prisão para as mulheres que abortam, deu, um triste espectáculo de hipocrisia política. E bem se pode dizer nesse plano que Ribeiro e Castro foi hipócrita. Mas não o serão os muitos milhares de portugueses que irão votar não, espero que em número muito inferior aos que votarem sim. Esses irão votar movidos por uma sincera convicção de que estão certos. Hipócrita é a prática da Igreja Católica, não os católicos. Dizer que a conduta da Igreja Católica se traduz por uma grande hipocrisia no plano social e político é um argumento. Tem um valor politico e retórico. Dizer que aqueles que vão votar não são hipócritas tem o valor de um insulto que pouco ou nenhum interesse tem. É uma graçolas. Podia ser um gag dos gato fedorento por exemplo. Pode até reforçar o sentimento de tribo. Mas não estabelece nenhuma ponte entre um universo e o outro. Pelo contrário, ao insultá-lo, admite que já o perdeu. Ora isso é um erro que não devemos cair nunca. Porque quem vota sim, o mais que pode é abster-se, por perguiça, por comodismo, por achar que Portugal já se modernizou ao ponto de deixar de ser regulado pela batuta do Cardeal da ICAR. Não há regresso do sim para o não. Porque quem vota sim amadureceu uma ideia de respeito pela vida humana que é concreta, atenta ao que se passa à sua volta e não se prende com axiomas esgrimidos hipocritamente por uma religião que sempre detestou a sexualidade como expressão de uma linguagem amorosa. Mas do não para o sim, há. Do não para o sim há um êxodo permanente. Do não para o sim é o País a libertar-se da sacristia. A Igreja sabe-o. Sempre que vai a votos ela sabe-o. Espera que ainda não seja desta, mas sabe que mais tarde ou mais cedo o tempo, a maturidade cívica e a consciência social vão vencer a subalternização deste País a uma influência desmesurada da Igreja na nossa sociedade. Temos de ser pacientes. Reconhecer no outro, no que pensa diferentemente, a capacidade de partilhar connosco algumas das evidências que em comum descobrimos. Porque o Sim tem uma grande responsabilidade na melhoria da vida de muitas pessoas.

1 comentário:

Elisa disse...

Somos dois, Joaquim, a achar pouco feliz esse 'autocolante'. E subscrevo tudo o que dizes, evidentemente.
Beijos
Elisa

(PS. no Bebedeiras está também um post sobre isto, já que andas a fazer a recolha.. e no Um dia a Menos para a Morte, também).