terça-feira, janeiro 02, 2007

A exaltação da solidão

Logo que me apareceu eu soube que este teria de ser o primeiro post deste ano. Escrevo-o a sério. neste segundo dia do ano varrido por notícias que sou incapaz de hierarquizar, para mim o facto de Saddam Hussein cuidar de um pequeno jardim de ervas daninhas - como nos testemunhou o seu enfermeiro - ocupa-me muito mais o pensamento e a disseminação poética que nele, por vezes, ocorre, do que o avançar das águas pelas dunas das praias de S. João da Caparica que tanto pesam no memorial vivo em que me fui constituindo.
E quando escrevo, a exaltação da solidão, não é, como poderia parecer, e como talvez devesse ser se isto em vez de um post fosse um texto marcado pela seriedade de um papiro, um panegírico sobre a solidão. Escrevo sobre o efeito que a solidão, a condição solitária, provoca no espírito de um homem ou de uma mulher. Exalta-os. Coloca-os no de fora de algo que será o interior das suas próprias ideias de mundo. O que há de terrível na solidão, é que ela começa por ser uma exaltação do espírito e continua porque é, pelo menos, o efeito de um espírito exaltado.
Por muito estranho que isto possa parecer, ainda mais estranho por ser no segundo dia do ano, sem passas, sem champanhe, sem outras ressonâncias que não sejam as do bater cardíaco, eu escreva aquilo que afinal, seria o único que poderiam esperar de mim: espero que este novo ano nos encontre a sós, iluminados pela exaltação do espirito solitário. Por muito que amemos os nossos filósofos, os nossos poetas, os nossos melhores bardos, e eles são sempre a expressão máxima de uma exaltada solidão, é no interior das nossas solidões de pedra que escavaremos a pepita inexistente. Espero que este novo ano nos encontre a sós, e no meio do tremor, do medo, da raiva que uma solidão quase sempre não consegue deixar de ser, nos apercebamos do estado miserável a que deixámos chegar o mundo onde vivemos.
O meu desejo para 2007: que a politica, a solidariedade, nasçam de uma solidão exaltada.

2 comentários:

Anónimo disse...

É que só somos homesn enquanto sós..

Anónimo disse...

É que só somos homens enquanto sós..