sexta-feira, fevereiro 23, 2007
Barracos pré-fabricados
Alexandra Lucas Coelho escreve hoje no Público. A certa altura fala de uns barracos pré-fabricados que faziam de Escola e que hoje deram lugar a um Centro Comercial. Leio-a e deixo-me aprisionar pela memória. Quando viemos para Lisboa, em 1972, a minha mãe foi dar aulas para essa Escola e só lá saiu para se reformar, quase vinte anos depois. Eu gostava de ser o filho da senhora professora, confesso. Como agora gosto de a imaginar na sua bata branca, no seu rosto jovial e também, determinado. As tardes da sua ensinança eram sempre tranquilas para mim. Às vezes eu vinha com um pretexto qualquer para lhe cravar dinheiro, quase sempre para comprar tabaco, entrava no corredor, era a primeira porta à esquerda quando se entrava no pátio, batia à porta, metia a cabeça para dentro, ela fazia-me sinal para entrar, eu ía lesto, por detrás dela, bichanava qualquer coisa que ambos sabíamos que era mentira, se ela estava bem disposta ou concentrada no trabalho dava-me o dinheiro, senão dizia-me que depois resolvíamos o que fosse. Outras vezes eu chegava pela tarde em que as professoras estavam na hora do chá ou do café, aquele café de manga, com cheiro forte, comia um pão com manteiga e um bocado de leite com café, como era delicioso o cheiro do café, o pão macio, a manteiga farta! Por vezes também a minha mãe dava-me uma folha e eu ía para um lugar vazio fazer desenhos. As miúdas da sala olhavam-me com admiração e eu, pela segunda vez, ficava todo contente por ser o filho da senhora professora.
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2 comentários:
ai as coincidências, não lhes resisto. e ir pelos corredores e ouvir as vozes bem sonoras das professoras de cada sala, entrar e sentir aquele cheiro misto de giz e de gente (e que reencontrei agora na pasta do meu filho).
Um tempo situado num ciclo de ensino agora sitiado pela burocracia.
A mim receberam-me essas companheiras que ferviam devagarinho o chá. Agora tenho dor em cada regresso e só raramente alegria.
~CC~
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