sexta-feira, fevereiro 23, 2007
Caixas para guardar o vazio
Apercebo-me que o meu corpo, o teu corpo, os nossos corpos, toda esta matéria-corpo, é como que uma caixa onde guardamos o vazio. Segunda percepção fatal: podemos encher uma caixa de vazio, e enchê-la de tal forma que ela fica a transbordar, cheia de si, do seu vazio. Esse milagre da fisica quântica é o nosso dia-a-dia. Todos os dias todos os corpos, os nossos corpos, o teu corpo, o meu corpo, se enchem, até ao limite insuportável do transbordo, de vazio.
Apetece-me chorar.
No teu limite possível do vazio que transvaza das fronteiras que definiste - sem nenhuma preparação nem conhecimento de causa, diga-se - como o máximo de vazio que o teu corpo pode guardar dizes,
apetece-me chorar.
E choras. O teu choro não é o dilúvio. É um pedaço de corpo. E porque o corpo é uma caixa para guardar o vazio,
o teu choro é um pedaço de vazio de que o teu corpo, o nosso corpo, o meu corpo,
se desvinculou.
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Caixa para guardar o vazio, é também o título da escultura performativa de Fernanda Fragateiro no CCB.
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3 comentários:
CAIXA PARA GUARDAR O VAZIO, de Fernanda Fragateiro
Escultura Performativa
Co-Produção: CCB - CPA / Teatro Viriato (Vise)/ A u Oficina (Guimarães)/ Teatro
Aveirense (Aveiro)/ Câmara Municipal de Sta. Maria da Feira/ Teatro Municipal da Guarda
Como é que alguém em 2006 faz este trabalho para eu lá colocar o meu???
O vazio chega a encher tanto que nos sufoca. Eu deixei de chorar... acho que foi por isso que também deixei de ser vaziamente feliz.
Nem sei o que é que isto que acabei de pensar/escrever quer dizer...
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