domingo, fevereiro 04, 2007

Ele tosse

Por falar em comoção: ele está com tosse.Tossiu e acordou. Estou junto ao frigorifico. Ele abre a porta do quarto, avança para a cozinha. Vem de olhos fechados. Não os abre. Avança para mim, franzindo as pálpebras para não os abrir. Choca comigo. Abraça-me. Puxo-o para o meu colo. Ele coloca os braços em volta do meu pescoço. É a minha cria e eu protejo-o. Ele abraça-me mais forte. Levo-o até à cama, nem chega a abrir os olhos. Deito-o. Cubro-o com o edredon e o cobertor. Ele fica. Eu também fico. Aguado. Que privilégio é este, existirmos? Dedicarmo-nos a uma cria? Aprendi verdadeiramente a amar, esse amor categórico que não é poema, versilho, redondilha, mas água, a água de que somos feitos, em que vimos, em que extravasamos, aprendi o que é verdadeiramente o amor com ele. Às vezes penso, gostava de poder viver até que ele deixe de precisar de mim.

2 comentários:

j disse...

Bonita, essa ternura.

Cristina Gomes da Silva disse...

Bom dia, também sinto o mesmo com as minhas duas crias. Às vezes esquecemo-nos desses pequenos(?) privilégios, mas elas (as crias)estão lá para nos lembrar que não podemos esquecer.