quarta-feira, fevereiro 14, 2007
Naufrágio com espectador
Acontece-me por vezes escrever inadvertidamente e publicamente sobre coisas tristes. Faço-o até de um modo triste, as mais das vezes. Digo de forma inadvertida porque nessas alturas me esqueço que o respirar já não é a minha casa, nem sequer a minha rua. É um lugar estranhamente público. Recebo então muitas vezes, e quase sempre dos lugares mais díspares e distantes, um telefonema, uma mensagem, um msn, pedindo-me explicações, dando-me apoio. Nunca sei o que dizer e sempre a verdade me parece inoportuna. É que mesmo quando escrever sobre a tristeza fala de uma tristeza nossa, é sempre depois de acontecer e ainda sempre um acontecer diferente da tristeza que verdadeiramente nos entristeceu. E assim como dizer a um amigo, a um conhecido, a um vizinho que realmente se interessou por nós de que ele chegou tarde, tarde para a tristeza, claro? Ou então arriscamo-nos a ouvirmo-nos pela enemésima vez a famigerada história de pedro e do lobo. Não, nunca sei o que dizer e sempre a verdade me parece fora de vez. O que se passa é que a tristeza é como um naufrágio, um soçobrar do espírito, onde por vezes caímos. E a escrita é a terra firme. O levantar da face.
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3 comentários:
Concordo. São as palavras que nos levantam e nos puxam para cima. Podem não trazer a felicidade, mas trazem sempre a paz e a compreensão do que somos e do que nos aflige.
Vejo-me reflectida no seu texto. Sinto exactamente o mesmo, do princípio ao fim. É estranho, porque a tristeza parece tao nossa, tao impressao digital dos nossos sentimentos, que é quase irreal cada vez que lemos a irmandade do sentir.
Há muito tempo que não me emocionava verdadeiramente a ler um blog! Obrigado!
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