quinta-feira, março 01, 2007
Carteiro de giro
Eu creio que foi o Luís que mexeu os cordelinhos. A carta vinha assinada pelo Luís Nazaré mas tenho a certeza absoluta que foi ele que se mexeu e remexeu até conseguir a minha reintegração como efectivo no corpo nacional de carteiros. Ainda não sei qual é a minha zona mas claro que aceitei. Apetece-me voltar às origens. Ser carteiro de giro. Andar pelas ruas faça sol ou faça chuva. Dizer bom dia e boa tarde e ser reconhecido. O meu indíce de popularidade vai subir muito, muito. Tem umas partes mais aborrecidas, mas é como dizia a Maria Porto, ser carteiro deu-me também as horas mais felizes da minha vida. Pús uma única condição e confesso que a medo, pensei que iria deitar tudo por água abaixo. Falei-lhe no Luís, o quanto admirava a descrição que ele faz da repartição dos correios, queria também escrever livremente sobre o meu trabalho, sobre os meus chefes, soltar o fígado, libertar a vesícula, doesse a quem doesse. Nunca tive geito para cartas anónimas, para a maldicência sem assinatura mas o poder de " qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência" apaixona-me desde miúdo, quando fingia ser o Clark Kent e assim me libertava dos horrores da guerra fria, da proibição de ver O Santo e O Fugitivo ou até, da repartição de tarefas domésticas. Fiquei espantado com a resposta positiva, sem pestanejar. Os CTT mudaram muito desde a última carta que entreguei. Fiquei tão impressionado que até me esqueci do meu cavalo de batalha de há vinte anos: não usar farda. Que se lixe. A farda nunca matou ninguém.
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