Desconversar.
Neste jardim.
Desconversar muito, até o peito me doer.
Não dizer mesmo nada.
Ficar com a cara de quem pensa em ti. A roubar os horizontes à paisagem.
Uma expressão que nada reflecte para suspender o silêncio.
Eu não queria dizer isto.
Que há vagar e há frio.
O sol pôs-se. Justamente atrás da árvore mais velha do jardim.
As pessoas que durante a tarde povoaram a sombra das árvores e o relvado quente foram-se retirando.
Um casal velho. Um rapaz que ria. Um casal novo cheio de beijos para dar. Uma mãe e crianças depois da escola. Uma banda com um contrabaixo.
Podemos dançar mãe??? Deixa-nos dançar um bocadinho!
Está bem, mas rápido que ainda temos de ir buscar o Estevão.
Deslizaram para fora da moldura.
Eu fiquei. Sem testemunhas.
A desconversar para melros e canções de vento e para um homem que de uma janela chamava a Patríciiiiiiiiaaaaaaa
mas para todos os efeitos não conta como testemunha porque estava um bocado longe.
Desconversei tudo.
Tudo.
Quando passou uma hora sobre a partida da última alma do jardim, tendo esgotado todas as desconversações, também eu parti.
Exausta.
1 comentário:
Belo retrato! (O da fotografia também. Gosto muito do contrabaixo, no centro, a descansar - a desconversar?)
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