quinta-feira, março 15, 2007

Desconversações

Desconversar. Neste jardim. Desconversar muito, até o peito me doer. Não dizer mesmo nada. Ficar com a cara de quem pensa em ti. A roubar os horizontes à paisagem. Uma expressão que nada reflecte para suspender o silêncio. Eu não queria dizer isto. Que há vagar e há frio. O sol pôs-se. Justamente atrás da árvore mais velha do jardim. As pessoas que durante a tarde povoaram a sombra das árvores e o relvado quente foram-se retirando. Um casal velho. Um rapaz que ria. Um casal novo cheio de beijos para dar. Uma mãe e crianças depois da escola. Uma banda com um contrabaixo. Podemos dançar mãe??? Deixa-nos dançar um bocadinho! Está bem, mas rápido que ainda temos de ir buscar o Estevão. Deslizaram para fora da moldura. Eu fiquei. Sem testemunhas. A desconversar para melros e canções de vento e para um homem que de uma janela chamava a Patríciiiiiiiiaaaaaaa mas para todos os efeitos não conta como testemunha porque estava um bocado longe. Desconversei tudo. Tudo. Quando passou uma hora sobre a partida da última alma do jardim, tendo esgotado todas as desconversações, também eu parti. Exausta.

1 comentário:

j disse...

Belo retrato! (O da fotografia também. Gosto muito do contrabaixo, no centro, a descansar - a desconversar?)