quinta-feira, março 15, 2007

Paolo Pinamonti - Teatro Nacional de São Carlos

É uma limitação minha: toda a minha formação cultural se fez de costas voltadas para o teatro lírico. Sempre achei desinteressante e bafiento o São Carlos. Fui lá uma vez. Nem me lembro do que se passou na sala, no palco. Lembro-me do espectáculo fabuloso da realeza e da aristocracia social no átrio e nos salões. Não era o meu mundo. Paradoxalmente fui estimulado pelo meu pai a apreciar a escuta de uma ópera em disco. A compra do primeiro gira-discos lá em casa, estaríamos em 1974, foi um momento solene. Acompanhava a embalagem do giradiscos duas caixas de discos e uma ópera. As colecções eram de Mantovani e de Amália e a ópera era o Barbeiro de Sevilha. A estas sucederam-se muitas, à razão de uma por mês. Fui assim estimulado para apreciar a perfeição e o espectáculo das vozes perfeitas do teatro lírico.Para agravar a conclusão do post: de José Sasportes, por quem tenho a maior estima pessoal, acho confrangedor o seu mandato no Ministério da Cultura. E não lhe perdoo a falta de sensibilidade que demonstrou na crise do Dramat no Teatro Nacional de São João. Há uma coisa em que me parece ter tido actuação exemplar: na contratação de Paolo Pinamonti para a direcção do Teatro Nacional de São Carlos. Embora não goste do espectáculo operático não posso deixar de compreeender a sua importância artística e cultural. Segui por isso com a atenção possível o trajecto deste Teatro nos últimos anos. E, ao ler hoje a entrevista de Pinamonti no Público, senti-me fortemente envergonhado e incomodado por um Secretário de Estado da Cultura ter tratado assim uma personalidade que enriqueceu, nestes anos, a nossa vida artistica e cultural. E é fraco consolo saber que em política é tão usual o efeito-boomerang. É que se amanhã quando Mário Vieira de Carvalho chegar ao seu gabinete tiver uma carta lacónica a dizer-lhe para empacotar as coisas, a perda, para a nossa vida artística e cultural será incomensuravelmente menor.

Sem comentários: