sexta-feira, abril 13, 2007

Angústias de um blogotecário

Estou mais meticuloso. Ou começo a acreditar num "corpus" de opinião. Por isso, tenho-me visto, em alguns assuntos mais polémicos (creio que comecei isso com a IVG ou com o Caso Esmeralda), a constituir uma espécie de blogoteca sobre o tema, abrindo o meu post à essa dimensão de hiperescrita que a blogos tão bem anuncia. Por uma questão de delicadeza deixei uma informação nos posts linkados de que tinha sido estabelecida esta ponte do Respirar. Escrevo isto porque, há quase quatro anos, esta era uma forma de existirmos. Iamos aos blogues que gostávamos ou aos que tinham mais audiência e começávamos a comentar. Uns mais envergonhadamente, outros mais descarados. Quase imperativos, veja lá o que escrevi sobre o assunto, ou mesmo paternalistas, agora para algo inteligente sobre o assunto vá ao meu blogue. Sempre fui dos mais discretos. Deixava um comentário que em regra era um gesto de sedução, tipo, vá lá, venham lá ver como eu sou um gajo sensível, simpático e que escreve umas coisas, e voltava para o meu esconderijo, ansioso por verificar se havia alguma correspondência. É um contrabandear de afectos e empatias que, à distância de quatro anos, tem a sua graça. Só que agora as coisas são diferentes. Pelas piores razões (a morte da Celta, da Cláudia e do César) ou pelas melhores razões (amigos blogosféricos de referência ou algumas citações nos média), este blogue tem hoje mais audiência do que aquilo que os seus posts são capazes de absorver. O Respirar o mesmo Ar nasceu e vive da blogosfera de vizinhança. Só que alguns dos meus vizinhos são muito conhecidos. Ora eu, que sou o mais assíduo escrevente desta tabanka, ainda escrevo para os meus amigos, blogosféricos ou não, para os meus vizinhos. Não estou muito preparado para grandes enchentes. Assustam-me multidões. Quando vejo que por vezes estão dez pessoas online e nem uma delas deixa um comentário eu pergunto-me quem serão estes que assim me lêem a falar com tanta indiscrição e à vontade das minhas amarguras como do caso político do dia e que consequências terá isso para o que escrevo. É claro que algumas vezes isso é muito bom. No outro dia descobri aqui alguém com quem me tinha cruzado há quase trinta anos na Comuna. Para já não falar d@s antigos colaboradores do DN Jovem, alguns dos quais, como a M de Campanhã, nem conhecia mas que já os considero amigos. Mas regra geral assusta-me, distancia-me. Pensei nisso ao ir a cada um dos blogues onde fui avisar que os tinha linkado no Respirar. E se cada um trouxer mais meia dúzia de pessoas que não conheço de lado nenhum, pensei? Vou dizer às pessoas para se sentarem onde? E o chá, sirvo-o onde, no regador?! E os bolinhos que a Luísa disse que trazia?! Safo-me destas angústias através da ideia inicial:"começo a acreditar num "corpus" de opinião". Ou seja, aqueles que aqui vêm ler "A Grande Suspeita" não voltarão à deriva. Sossego-me assim. Posso assim sentir-me privilegiado por me sentir conectado a um determinado universo opinativo.

9 comentários:

Anónimo disse...

JPN vou ao seu blog assiduamente, confesso que o prefiro mais intimista, mais deambulante nas questões do sentir, do que quando debate questões politicas. De qualquer forma é sempre com enorme prazer que o leio e releio. Bem ajas.
Maria João
mulheresforadehoras

JPN disse...

Maria João, também gosto muito de te ter por cá. Assim, em sabendo quem são e de onde vêm, nunca hão-de falar nem chás nem bolinhós. :)

Anónimo disse...

E já agora coladeiras, kizomba e mornas, venha dai um pé de dança, B`leza faltoso. :-)
Maria João F.

sweety disse...

Meu caro,
todos os dias cá venho, tomo um cafezinho, fumo um cigarro (a propósito, continuas sem fumar? óptimo! só te faz bem! a minha altura ainda não chegou! está para breve, porque já não posso ouvir os meus filhos!), e deleito-me com os teus escritos! deixei-me de mitomanias, tive que deixar ir corpos e amores na maior e absoluta tristeza, ganhei dores para sempre e estou de novo a aprender a viver pé ante pé. com a tua ajuda, diariamente. Obrigada e bjos.

JPN disse...

obrigado, eu, I.

CCF disse...

Cada um leva o que quer de onde quer levar...e deixa o que quer ou pode deixar, nos blogues como na vida, parece-me...não te preocupes!
Trinta anos é muito tempo...ainda não tinha feito assim as contas...:)))
~CC~

lb disse...

Caro JPN, depois de mais de 3 anos de andanças na blogos é claro que já antes tinha ouvido falar - e bem - do respirar o mesmo ar. E tenho vinda passar por aqui, uma ou outra vez. Mas, ao tentar seguir uma auto-imposta contenção para não me perder ainda mais nos passeios por este mundo virtual sem fim, nunca cheguei a ser um visitante regular, e não linkei este blogue.
O seu post anterior "A grande suspeito", de que teve a simpatia de me informar, é o melhor que li até agora sobre o caso, e li muitos.
Vou linkar o respirar.

Luísa disse...

Já lá vão mais de três anos que descobri o ROMA, pouco depois de ter aberto o meu lugar. E tem sido dos poucos que sempre li, com maior ou menor assiduidade, não por causa da leitura, mas pela vida lá fora.
E este blog é como a vista da sua janela, pode até ser mais ou menos luminoso, mas tem a largueza de um rio que vai dar ao mar.

E que diabo, Joaquim!, ainda não percebeu que escreve bem?! :-)
(e haja forno, ovos, farinha, açúcar, raspa de limão ou canela ou erva-doce ou... boa-vontade, que biscoitos não faltarão)

Mónica (em Campanhã) disse...

vem-se cá porque se respira este ar, e depois fica-se (@migo)