sexta-feira, abril 27, 2007

Geleia de marmelo

Penso na coisa mais simples de que sou capaz. A primeira coisa que me vem à cabeça - e é claro que eu estou a fazer simultaneamente este jogo de pensar no que escrevo e de pensar naquilo que digo que estou a pensar - é azedas. Azedas amarelas. Como não há Maio sem papoilas nem espigas também não há campos na infância sem azedas. Aquele suco ácido, refrescante, era a redenção nas tardes quentes. Mais coisas simples: a compota de pera ou de tomate que a minha mãe fazia. Íamos à Malveira comprar a fruta e depois, os três irmãos, descascávamo-la e metiamo-la em alguidares. Lembro-me do pacote de açúcar amarelo em cima da pedra. Agora me dou conta de que a minha mãe era uma perfeccionista. Tinha uma fileira de frascos de tampa escura ( do Nescafé, do Mokambo, da Tofina) em cima da pedra e uns rótulos muito bonitos, com floreados azuis, onde ela escrevia, com a sua letra lindíssima de professora primária, doce de tomate ou doce de pera. E havia ainda a geleia de marmelo. A geleia de marmelo é mesmo a coisa mais simples que eu sou capaz de imaginar.

3 comentários:

Anónimo disse...

No bairro da minha infância para se ser admitido num clube secreto, havia a terrível prova de comer 100 azedas. Por isso para mim azedas significam uma tremenda dor de barriga. Remédio santo, para ficar na idade adulta imune à ideia louca de entrar na Opus Dei ou na Maçonaria.
Maria joão

JPN disse...

:)

D. Ester disse...

o que me lembraste com a geleia de marmelo... é o meu doce preferido, e a única pessoa que mo fazia exactamente como eu gostava era uma tia-avó que já não está cá. A minha mãe tentava esconder os frascos no fundo da dispensa para evitar que os comesse todos à colherada.