sábado, julho 21, 2007
Arroz de casca de fava
Deve ser um sentimento piedoso, cristão, católico, apostólico, romano que me trespassa: sinto uma vontade de fazer da minha vida uma frase pimba. Uma frase-tipo. Há trinta anos, vou imaginar que era sábado ou domingo, por esta hora já havia barulho de tachos na cozinha, o meu pai, depois de ter construído arranha-ceús de louça, tachos e talheres em seu redor, estaria a descobrir o arroz de cascas de fava. Porque ele era um inventivo, um conterrâneo do chefe Silva. Um dia oferecemos-lhe um barrete de cozinheiro, tinha o meu pai poucos hobbyes, se era noite, escrevia, se era verão pescava, se era primavera, outono ou inverno, cozinhava. Rimo-nos todos da sua loucura até que aquele sabor se nos entranhou devagar no palato. E ainda hoje a boca se me derrete ao imaginar aquela iguaria.
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