sábado, julho 21, 2007

O que é a paz?

Acordei com os sons do pátio que há tanto me escapavam. Sons do falar, da música matinal, a ressoarem na câmara de eco em que a vila interior se torna. Olhei para o meu vizinho pintor. Lá estava ele. Janela aberta, a silhueta a aproximar-se do quadro. Vou ao outro lado confirmar o rio. Lá está manchado por sombras de núvens. Estou em paz quando acordo. Não sei se é do sol, de me ter habituado a mim, ao meu próprio som a ressoar pela casa, até o não compreender não se me estranha. Talvez tenha sido também daquele "Paris, je t' aime" colectivo, pedaços de vida numa cidade que se me alumia quando sonho. Uma vontade enorme de voltar a Paris. Quando tinha treze, catorze, quinze anos, descobri a Paris de Somerset Maughan (já sei como começar a lista, o desafio da M.). Eu conhecia o Quartier Latin como a palma da minha mão. Adivinhava os rostos saídos da janela. A primeira vez que fui a Paris senti aquilo que todos nós sentimos como quando batemos com a cabeça numa realidade que nunca coincide com os nossos melhores devaneios. Mas era amável. Voltei mais uma ou duas vezes à cidade. Uma das últimas recordações que tenho é a de carecas rapadas em frente a uma discoteca da moda em Pigalle. Não é por isso que nunca mais lá voltei. Fiz uma promessa a mim mesmo, a próxima vez será com um amor como nunca existiu, nem existirá, um amor para sempre. Como o é para sempre este devaneio amoroso com Paris. É daí, desse amor impossível, burilado por imagens non sense, que me vem a paz que agora me alenta.

1 comentário:

Mónica (em Campanhã) disse...

isso é muita responsabilidade para um cidade, mesmo que seja Paris. mas percebo-te, é bom pensar que teremos sempre Paris.