quarta-feira, julho 04, 2007

O tempo que é o tempo que aqui andamos

Ao ir ao Avatares e ao ler o post sobre os quatro anos, percebi que já tinha passado o aniversário deste blogue. Sou agora da blogosfera praticante tão igual como da vida: vou por hábito, por alegria endémica, por modo de ser, de pensar, porque o meu corpo me diz para ir, porque ele se transforma em pensamento. Claro que faria festa, se de tal me alembrasse, o festejo é um momento excêntrico da nossa vida em que quase tudo faz sentido. Uma festa colodorida. Fazem-me falta os que cá não estão mas é dos vivos que recebo as cores, os vermelhos, os amarelos, os verdes, os azuis, todas as cores bases de onde partem todos os arco-íris do mundo. Estou a ficar velho. Às vezes começo a escrever e desato a chorar sem saber porquê. Ou se calhar, à medida que cresço em vez de envelhecer vou para novo. Lá, nessa terra onde fui também choramingava muito. Todos os dias acordo e adio o desespero. Ele bate-me à porta, ou à janela, já não sei. Quer missa. Eu não lha dou. Sinto que podia ser melhor, que as coisas já tiveram um sentido bestial, mas não lhe dou missa. Nem missa nem missal. O meu deus é a minha vontade de cantar. Eu não devia estar a escrever isto num cibercafé. As pessoas vão-me ver a lacrimejar e ainda pensam que eu sou algum poeta. E não sou, nem poeta, nem poesia. Apenas um tipo que às vezes vem escrever aqui umas coisas e que depois acaba por escrever outras. Quatro anos é algum tempo. Fiz aqui amigos, amizades. Gente que nunca conheci, nem irei conhecer senão aqui. A blogosfera é uma das 7 maravilhas do nosso mundo. Tudo nela é falso, daquela falsidade que só a verdade pode ter. A performatividade da linguagem. Os meus mortos e os meus vivos. Voltei a existir de novo aqui, em textos de cinco, dez, quinze linhas. Eu não sei se voltarei a acreditar no mundo, não sei se voltarei a rir de riso natural. Tudo em mim é literário como a minha dor.

4 comentários:

Luísa disse...

Parabéns, Joaquim, por cada dia que escreves, e que nós lemos.
eu não sei se tudo é falso... há o sentir, e esse, aqui como lá fora, e nesse... perante nós mesmos, não há falsidade.
até...
... já
... (?)
:-)

Cristina Gomes da Silva disse...

Bom dia, mas tens uma dor colorida, que vem do fundo da tristeza dos nossos dias que não são nunca como gostaríamos mas para lá caminhamos. Como nas utopias. Continua.

Eduardo Graça disse...

Tá bonito, pá! Não sei nada da verdade e da mentira. Nas lá que está bonito, tá!

CCF disse...

Concordo com a Luísa. Não sei se isto é verdade ou mentira mas às vezes sentimos mesmo os outros, por mais que a forma usada- a linguagem-seja já uma forma de tradução do pensamento em vez de "estado puro". Sentimos quando lemos este teu texto, sentimos a tua existência e proximidade relativamente a ela. Se calhar isso é pouco, mesmo pouco, mas a verdade também é que há pessoas que vivem ao nosso lado que não sentimos assim. E olha, tenho duas árvores pequeninas, uma para ti e outra para a Luísa. Não sei se algum dia as deixarei convosco, se não acontecer, ficarão com os vossos nomes. Um beijo.
~CC~