terça-feira, julho 31, 2007
Uma questão cívica
Ao preparar o almoço, e por causa do calor, tive uma ideia: iriamos fazer um pequeno piquenique no jardim do Largo da Graça, mesmo em frente de nossa casa. E levaríamos também os apetrechos para a modelagem de barro.
Assim fizémos.
Quando estava a estender a manta na relva um homem aproxima-se e diz que não posso estar ali. Pergunto-lhe porquê já que não vi nenhuma proibição nesse sentido. Responde-me de forma muito rude:
- Isso é só para crianças. O senhor mostra que é pouco inteligente ao não perceber isso.
Digo-lhe que já participei em várias iniciativas ali naquele exacto sítio, promovidas pela Junta, em que o espaço era ocupado por crianças e adultos. Ele continua a descompor-me, agora com uns amigos que tem no banco. Eu chamo-lhe a atenção disso:
- Independentemente de me explicar ou não porque é que não podemos estar os dois aqui, não tem o direito de me tratar dessa forma insultuosa e muito menos ao pé do meu filho.
- O senhor é que é um mal educado porque a partir do momento em que eu como funcionário da Junta lhe disse que não pode estar aí só tinha era que obedecer.
De uma forma pouco congruente ainda me diz que a pequena barreira que existe é para proibir os adultos e não as crianças. Aquilo tudo não fazia sentido nenhum. Eu proprio já tinha participado em actividades da Junta feitas naquele exacto pedaço de relva. Chama-me irresponsável por trazer o meu filho para ali, para um sitio onde os animais fazem as suas necessidades.
Não lhe respondo.
Por esta altura já o meu filho me pedia para ir para casa. Assim fiz. Peguei nas coisas, voltei a arrumar o saco, a recolher a manta, não sem antes ter ouvido um coro de protestos de umas mulheres a defenderem-me. Queriam arraial, é claro que não lhes dei. Arranquei para casa. Na escada ele diz-me:
- Apeteceu-me dar um soco naquele homem.
- Era muito má ideia. Não nos devemos zangar assim. O senhor foi mal educado mas assim nós também perdíamos a razão.
Almoçámos. E como sempre, nestas situações, há uma parte de mim que me diz para não me aborrecer. Só que a presença do Pedro fez-me ver as coisas de outro modo. Por isso ao sairmos de casa para a esplanada, digo-lhe:
- Olha, vamos ali à Junta de Freguesia, o pai vai apresentar uma queixa contra aquele senhor e vou perguntar se podemos ou não estar ali em cima da relva.
Pelo caminho vou-lhe explicando que o senhor poderia ter razão, ou seja, que ele poderia estar a cumprir ordens da Junta e mesmo que eu possa pensar que essas ordens são pouco sensatas, aí eu só poderia queixar-me da forma desqualificada com que me tratara, já que em relação à proibição eu deveria reclamar da própria Junta.
Chegado à Junta de Freguesia da Graça expús o meu desejo de me queixar e de imediato trouxeram-me o livro de reclamações. Expús a situação tal como ela se me apresentava e depois li-a ao Pedro, que estava a levar tudo aquilo muito a sério.
E depois perguntou:
-Mas podemos ir para lá outra vez?
Chamei outra vez a funcionária perguntando-lhe isso. Ela diz que não conhece nenhuma ordem nesse sentido, que sabe que a Junta já fez actividades lá e que não conhece nenhuma indição expressa disso no local mas que a esse assunto só o Presidente poderia responder. Escrevi-lhe por isso uma carta, solicitando esse esclarecimento.
Saimos os dois de lá e o Pedro estava muito contente com tudo isto. Principalmente por perceber que afinal de contas as coisas não se resolvem aos gritos. Nem ao soco.
[Actualização_ Todos os dias ao passar por este local ele me pergunta, ele (O presidente da Junta) já respondeu a dizer se podemos ou não ir para a relva?]
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7 comentários:
Muito bem. Além disso, praticaste uma acção de cidadania, uma coisa que os portugueses praticam pouco. Dessem os portugueses uns "murros na mesa" de vez em quando e "isto" era capaz de melhorar... Assim, os jardins continuarão sempre abandonados à sorte das (militares) juntas.
De facto, iam a passo de missão.
Também me pergunto que barreira é essa que trava adultos e não os cães. Já o Jardim da Estrela (cuja relva não tem barreiras) tem os canteiros muitas vezes impróprios para a manta.
:) Que bela acção.
fantástico!
respirar, dar um passo atráz e fazer o mais correcto!
devia ser sempre assim
são os mais pequenos a aprender a vida... cá em casa já me perguntam, se vou à escola falar ou a algum local menos óbvio, se vou reclamar.
mas é uma sorte seres impedido por funcionário em excesso de zelo, podia ser pelo cócó de cão que cá por cima enche cada m2 de relva.
Deixo aqui mais um triste exemplo - também ainda aguardamos uma resposta - publicado com várias fotografias no cidadanialx.blogspot.com/
[a pedido de alguns residentes da Freguesia de São João de Deus, publico aqui uma carta enviada na noite das eleições para a Junta de Freguesia e serviços responsáveis da CML. Infelizmente, as imagens confirmam o trágico cenário dos logradouros públicos transformados em lixeiras descrito no texto do arquitecto Rui Valada]
Exmo. Sr. Presidente da Junta da Freguesia S. João de Deus,
Vimos por este meio chamar a V. atenção para a gravidade do estado de conservação dos espaços verdes da nossa Freguesia. Hoje, e em dia de eleições, decidimos passear pela Freguesia e ficámos chocados com o estado de abandono em que se encontram os nossos jardins. Para além da ausência de manutenção regular, em alguns casos, encontrámos situações que colocam em risco a saúde pública.
- Lamentamos o estado de conservação do Jardim (placa central) da Praça de Londres, nomeadamente dos bancos e o lixo acumulado;
- Lamentamos a falta de respeito dos utilizadores do Jardim Fernando Pessa que passeiam os seus animais de estimação SEM trela permitindo que os mesmos sujem os relvados apesar da indicação existente nolocal. Pensamos que para além de uma maior fiscalização deveria existir mais informação sobre a proibição e o valor das coimas;
- O Jardim da Praça Afrânio Peixoto apresenta também problemas de manutenção, como por exemplo a utilização do lago como lixeira e vários bancos arrancados do chão;
- e finalmente o estado mais grave de todos o "jardim" logradouro da Avª de Madrid. Para além do abandono geral das plantas (rega inexistente) e árvores ainda sobreviventes, ali vimos de tudo um pouco: medicamentos, restos de comida, baterias de automóveis, carros abandonados, plásticos (cuja degradação na natureza é de milhões de anos), calçado, vestuáriuo, sacos cheios de lixo, garrafas, latas, ratazanas, etc. É chocante ver uma lixeira neste espaço verde público. É lamentável o estado em que se encontram estes espaços.
Gostaríamos de perguntar a V. Exa. que LAZER é que sugere a uma família da freguesia que se desloque a um destes jardins? Ao ler as placas que a Junta de Freguesia instalou, a convidar-nos para o lazer e para sua estima, sentimos uma enorme frustação pois não é possível a sua utilização e assim perdemos todos qualidade de vida.
Agradecemos a sua atenção e aguardamos uma resposta para estes problemas.
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