quinta-feira, setembro 13, 2007
13 de Setembro de 1994
Treze anos depois evocar-te é ainda uma urgência que me cola a pele de dentro, como se retesada pelos múltiplos esticanços de que teve de se fazer arte nestes anos todos que já foram. Lembro-me sempre de ti com essa camisa desportiva com que tu gostavas de ir pescar porque tinha bolsos para tudo. Para o tabaco, que te haveria de ser fatal, para o canivete, com que ajeitarias o isco ao anzol ou cortarias um pouco de linha, ou simplesmente lascarias um queijo seco, dos do avô Figueira, de Elvas, que tanto te compraziam. Lembrar-me de ti é assim, sentado na varanda da nossa casa na rua Domingos Machado, em Mafra. O lugar onde, ao entardecer, te esperávamos enquanto vinhas da F.O.C. Ficas bonito com essa tristeza na face. Como és bonito e garboso cantando ou até - que estranho pai, ainda hoje me parece que não és tu, mas o pedaço de ti que queriam que tu fosses - nas tuas vestes de sacerdote. Ou, como tu não sabes, quando o teu neto se ajusta na cadeira do carro e olhando a escuridão que se colocou no firmamento escolhe a estrela mais luminosa, maior, e dizendo, é o meu avô que está no céu, a olha como se te confiasse a sua paz, o seu sossego de menino. Não, não fui eu que lhe ensinei isto. Foi aliás com ele que o aprendi. E assim lembrar-te nunca me dói. Nada em ti me dói. Nem esquecer-te devagarinho quando o tempo vem em vagas, como as marés.
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11 comentários:
Um abraço.
É muito bom quando esquecer não dói. Gostava de poder esquecer assim.
Outro abraço.
abraços. :)
tantos abraços quase que se abraçava o mundo ;-) mais um!
e outro.
:)
e outro abraço.
e um sorriso.
tão bonito
"O tempo é mais do que a vida. Nós ficamos velhos e morremos e o tempo nunca fica velho e morre, há sempre tempo a mais que sobra para as pessoas que cá ficam." - (transcrição do que foi dito por uma criança de 5 anos)
um abraço
....
@-,-'-
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