quarta-feira, setembro 12, 2007

Elisa
conta esta história deliciosa. Também eu fui sensível à força desta voz canora. Tinha doze anos, uma túnica castanha e o Duarte ofereceu-me um pin com estas cores de amarelo tórrido com as letras vermelhas, MRPP que ficava tão bem naquela farpela. Esqueci-me de colocar isto no meu curriculum. Fui jornalista com doze anos de idade. Fiz uma edição de discursos que transcrevi do grande educador do proletariado português. Utilizei a Princess, teclado hcesar, do meu pai. Sobre o comunismo, sobre a descolonização, sobre o proletariado, sobre o fim da exploração. Na última página tinha notícias do MIAP . O MIAP era o movimento independente de apoio às porteiras que ainda hoje está assinalado, a risco de canivete, na entrada do número 6, antigo 87. Tinha começado por ser o Movimento Independente Anti-Porteiras, que se dedicava à luta armada, com acções de sabotagem do carro do marido da porteira do 88, com batatas, com tomates, mas que não aguentara mais do que dois dias porque um dia o pai do Luís Costa, que era militante do PC, desceu cá baixo e perguntou se achávamos muito digno andarmos a prejudicar uma mulher simples, trabalhadora. Olhámos para a nossa cara de pequeno burgueses, e em uníssono mudámos a designação e o comportamento. Era desta última fase heróica, de exaltação operária que rezava o meu boletim. O MIAP teve um fim triste, entregue sem dúvida a meritórias acções cívicas, mas também, chatas, sensaboronas, sem nenhuma aventura revolucionária. O movimento acabou tempos depois por ser extinto, por tédio. Quanto a mim, a mãe do Duarte comprou-me este boletim por sete escudos e quinhentos e eu, por uma tarde, fui um empresário de sucesso na comunicação social.

1 comentário:

Elisa disse...

MIAP? Extraordinário :-)