sexta-feira, setembro 14, 2007

Ex-namorad@s

O mundo seria muito mais amável se não houvessem ex-namorad@s. Eu já tive aquela ambição tão bem intencionada quanto pateta de fazer de cada ex-namorada um@ amig@. Há alguns anos atrás eu pensava que era uma prova de maturidade ser amigo de todas as minhas exs. Maturidade, civilidade, sociabilidade. É um disparate. Só o tempo, e o que as pessoas fazem nesse tempo, é que vai dizer se isso é possível ou não. É claro que é do mais refinado bom senso não se fazer uma cena, não se atirar um copo ao ar, não se insultar um@ ex sempre que nos cruzamos com el@. Há um código de boas maneiras que nos pode até elucidar sobre as frases que se devem dizer. Aprendi por exemplo que dizer a uma ex que ela está mais bonita, mais elegante, é uma atitude que nos devolve aos dois uma incrível bonomia e crença na humanidade. Falar dos filhos é outra saída igualmente bem aventurada. A polidez é uma forma agradável de estarmos uns com os outros. É um disparate acordar aquele azedume, que como nata, reveste muito do nosso pretérito que não vingou. Olhar por exemplo um@ ex com uma sensação de alívio, e de incredulidade por termos um dia estado apaixonados por el@, é uma daquelas coisas que, por mais vontade que tenhamos, só revelam insanidade mental. Não devemos acordar o ódio, o rancor, o ressentimento. Tudo isto é verdade mas também nada disto faz uma amizade. A única coisa que faz uma amizade é a vontade verdadeira, autêntica, de partilharmos incondicionalmente as nossas vidas. Onde o amor tem condicionais, a amizade nua, despojada, tem tudo. No outro dia, tive saudades de conversar, de falar, de estar com uma pessoa com quem há uns anos tinha estado envolvido emocionalmente. Mandei-lhe uma mensagem a dizer, espero que possamos ser amigos. Ela respondeu-me o que teria respondido qualquer pessoa com aquele mínimo de sensatez de que eu parecia estar desprovido quando lhe mandei a mensagem: eventualmente. Pode ser que sim, pode ser que não, @s ex-namorad@s são pessoas enfiadas em cabides num não-lugar. É que existem ex-namorad@s, mas não existe ex-namoro. É que como não existe ex-namoro, @s ex-namorad@s são pessoas à espera de vez. Só existem para nos incomodar. Ou porque querem as coisas que deixaram lá em casa, ou porque já não as querem, ou porque se aborrecem por termos arranjado namorad@s, ou porque nos aborrecem porque arranjaram namorad@s, ou porque nos telefonam a pedirem-nos coisas disparatadas como se nos quisessem dizer que somos um mero utilitário, ou porque entretanto deixam de nos telefonar ou de nos responder, ou porque já não mexem com os nossos dias mas logo que fechamos os olhos nos sacodem com histórias do arco-da-velha, @s ex-namorad@s são verdadeiramente um martírio para o espírito e o mundo seria bem mais amável se não existisse este purgatório dos aflitos, em que um conjunto de pessoas que já não são o que eram, ainda não são aquilo que, eventualmente, poderão vir a ser.

3 comentários:

Mónica (em Campanhã) disse...

e há? tu não as sabes fazer desaparecer?

Anónimo disse...

e @s ex d@s actuais?...

blue

JPN disse...

ess@s são o lado divertido da questão, heheheh.