sexta-feira, setembro 07, 2007

Nudez

Ainda estou na fronteira do real quando ela se levanta.
Se eu não a soubesse diria que ela era um peixe, tal me parecem pequenas retículas de escamas, o resto do calor da sua pele sobre os lençóis. Ocupo-o com o meu corpo nú, preencho-o pelo rasto de conforto que aquela temperatura ainda resiliente é. Ela não sabe, não sente, não diz, não está. Ouço-lhe apenas os gestos da maquilhagem apressada, matinal, vindos pelo corredor. É o tempo do seu calor a desvanecer-se, penso, sem latejar. Neste momento estou todo virado para dentro, para dentro da sua sombra estendida no leito, no meu peito. Farejo-a caninamente, este despertar de bicho dá-me coragem para o meu dia de gente, calculo o tempo em que o pequeno apontamento de caracterização feminina a trará de novo ao quarto, ainda em estado sonâmbulo puxo com os pés os lençóis para baixo, não totalmente, de modo a destaparem-me uma perna, a nádega. Ela tem pressa, eu apenas quero que a imagem da minha nádega nua se encoste ao seu olhar, tal e qual como há pouco o seu calor no meu corpo, nem abro os olhos, fico a imaginá-la feliz a sair de casa com a visão da minha nádega nua a sorrir-lhe na face, um café curto e um pão com manteiga, por favor, sorri para o homem do balcão enquanto pensa no rabo macio que deixou ficar na sua cama, eu também, os meus quarenta e cinco anos custam-me menos vistos pela traseira do meu corpo, que se lixe a ligeira proeminência da barriga, sou outra vez menino, rapaz, moço, quando ela sai levanto-me de um salto, olho-me , satisfaço-me na contemplação do meu rabo de adolescente.

1 comentário:

jpt disse...

tens desafio