terça-feira, outubro 02, 2007

O lento artifício da poesia

É nestes dias que escrever num blogue, enquanto fazer que é um comover-me por dentro, me salva. Sou assim, preciso da escrita para completar este processo de fusão emocional entre mim e a minha molécula. De repente, na barafunda que esta vida é, entre perdas, mortes, avessos, tudo bate certo como aquela pequena gota de água da chuva que com precisão milimétrica me entra dentro da blusa e, divertida, me escorre pela pele, pelas costas: incréu no amor sou amante feliz e rio como uma criança, como um jovem, como um potro selvagem; numa sala de aula interrogo-me e sou questão, sou quase pensamento, e digo quase, porque interpelarmo-nos não é ainda pensar e pensar não é já ser pensamento. É preciso um lento artíficio para fazer da coisa coisa. E esse artíficio é o tempo em que persistimos na procura, na interpelação, na questão, na pergunta, na poesia. Esse artifício é o instante poético.

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