Eu gostava verdadeiramente de perceber o que está por detrás do que nos acontece. De poder vir aqui escrever como um homem que está sinceramente e devotadamente empenhado em perceber o que lhe acontece e que consegue pelo menos encontrar o trilho, o caminho. Queria, não queríamos todos?!, perceber como é que essas coisas que nos acontecem criam uma tessitura encadeada de factos que se sucedem uns aos outros e que um dia, vão resumir-se naquilo a que os outros poderão chamar, a nossa vida. Era isso que eu gostava de fazer aqui. E não estas minhas pequenas habilidades linguísticas. A mim não se me estranha a metafísica. Cresci com ela, desde a infância que andarilho com ela por aqui e por acoli. Aliás, tinha-a perdido. Talvez porque muitas vezes ela significava para mim angústia. Medo, até pavor redondo. Perguntar-me, interrogar-me, aqui vaga, pedaço de estrela, terra, água, fogo, ar, deixava-me ainda mais só, mais ilha perdida. À deriva. Eu tinha medo de morrer, um medo angustiante de morrer, de desaparecer sem deixar rasto. Não sei o que se passou entretanto. O que (me) aconteceu. Sei, e sei-o porque o sinto, que este não saber não me amedronta, não me angustia, não me amargura. Sei que esta realidade física já não é suficiente para me satisfazer. Um dia, há muito tempo, um amigo, colega da aventura das expressões artísticas, falou-me de uma forma encantada da psicoacústica, em como haveria uma espécie de identificação musical mínima, com a qual nos relacionamos com as sonoridades contidas no ressoar do mundo onde vivemos. Eu não sei se esta ideia é verdadeira, se foi isto que, naquela conversa à beira do Rivoli ele me contou. Sei que foi assim que esta ideia tem navegado em mim. E que agora redescubro numa outra dimensão. Há uma zona dentro de mim que é um pedaço de luz, um cristal branco , flamejante. Nunca cuidei dele, nunca, voluntariamente, cuidei dele. Lembro-me de o ter descoberto há uns anos, numa sessão de yoga, como um calor enorme que a partir dali criou um sol dentro do meu corpo, aquecendo-o, tranquilizando-o. A linguagem é terrível, descrever estas realidades ocultas é uma traição que a linguagem faz ao que (nos) acontece, deixo-me ficar por aqui. Os meus poucos leitores não estão habituados a este tipo de jpn, que fala. com alegria pagã, de uma luz branca com a qual se tenta conectar com a luminosidade que há no mundo onde vive. Ontem estava a olhar a cara do Pedro Alpiarça que tenho em frente do meu estaminé lá no trabalho, uma fotografia de um jornal gratuito, creio que o destak, mas que lhe apanha toda aquela bondade, toda aquela ingenuidade, a alegria, que sorri, andei com aquele sorriso a tarde inteira pelo Chiado, já disse, aviso, não vou aos saldos das religiões, percebi que -por causa daqueles que nunca morrerrão dentro de mim - tenho tanta energia cá, no mundo dos vivos, dos fenómenos físicos, esquartejáveis pelo positivismo, como lá, no mundo aparentemente inatingível do que não se manifesta, de um imenso universo de energia que só poderemos atingir pela esmerada, cuidada e redobrada educação da nossa sensibilidade.
4 comentários:
Percebo, partilho :)
~CC~
Eu também :)
Ainda bem que regressaste, Um abraço
A essa luz branca, manifestação do numinoso na nossa percepção do real, há quem chame divino também :)
louvo essa força de alma . a insistir no saber de dentro.
que bom descobrir alguém que se "luta".
abraço.
dezembrino.
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