Este abaixo assinado fez-me lembrar uma pequena história, quando aderi ao Partido Socialista, creio que em 2002. Na altura, porque tinha havido uma vaga de novas adesões, tanto mais curiosa quando sucedendo a um desaire eleitoral, os novos militantes, foram tratados como as coqueluches do partido. Não havia festa nem festança em que não viesse a D. Constança lançar um grito, um urra, uma saudação aos novos militantes. Já aqui escrevi uma vez o que sinto em relação a esse processo e como a minha filiação foi uma das minhas mais inconsequentes atitudes. Lembro-me disso porque numa dessas reuniões com novos militantes, em que cada um explicava os motivos da sua filiação, tive oportunidade de explicar as minhas ingénuas razões: tendo consciência daquela espécie de amor-ódio que os socialistas nutriam por Carrilho, ía juntar-me aos que queriam que o Partido Socialista não se esquecesse o quanto invulgar e modelar tinha sido a política cultural desenvolvida por este partido durante o período em que ele esteve à frente do Ministério da Cultura. Hoje, com o passar do tempo, mais clara e nítida é a ideia do período verdadeiramente excepcional que a actividade cultural viveu nessa altura.
quinta-feira, janeiro 03, 2008
O regresso à Cultura
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9 comentários:
Não sejamos ingénuos: com esta ou com outra ministra da cultura, a razão da mediocridade deste ministério tem a ver com a falta de sensibilidade cultural do governo, a começar por Sócrates, um político sem cultura. Não há por aí um baixo-assinado para demitir o governo por inteiro?
Não sejamos demagógicos: na iniciativa o "Estado da Arte, A Arte no Estado", que veio a ocorrer ao tempo de Sasportes à frente dos destinos da Cultura,sentaram-se os principais protagonistas da política cultural depois do vinte e cinco de abril.
Em representação da era Carrilho estava Rui Vieira Nery(que tinha saído de secretário de estado em ruptura com o primeiro). Vinham do espectro político de um bloco central alargado, à direita, ao CDS. Foi um momento confrangedor para todos os que estavam ligados à actividade cultural e que perceberam, instantaneamente, porque tinham sofrido tanto na pele com a falta de uma política cultural. Excepto o tempo de Coimbra Martins onde uma ideia de acção cultural (ainda que muito centrada no livro, na literatura, na biblioteca) surgiu orgulhosa da sua matriz política, todos os outros eram a perfeita explicação do deserto. Ou porque, em 74,75, a política era na rua e se aqueciam pouco os lugares, ou porque os orçamentos para a cultura já eram pequenos e tinham que satisfazer muitas capelas, ou porque a sensibilidade cultural dos nossos governantes nunca foi muito cultivada, premiando-se mais um político que se emociona diante de um espectáculo de futebol do que aquele que estremece diante de uma outra qualquer manifestação artística, o facto é que de 74 a 95 só Vieira Nery é que apresentou aquilo que tinha sido uma política cultural consequente em todas as áreas artísticas.
Ou seja, e voltando à questão inicial da demagogia ( se exceptuarmos a acção de Coimbra Martins na área do livro), com esta ou com outra ministra da cultura, a razão da mediocridade deste ministério tem a ver com a incapacidade política em assumir as linhas de força da actividade cultural que já foram desenvolvidas dentro do património político socialista por Carrilho. Adaptando-as ao desenvolvimento que em algumas áreas já foi feito de programas lançados nesse tempo, como a rede de cineteatros, a rede das bibliotecas, dos museus. Clarificando a intervenção do Estado numa área onde só no final Carrilho se decidiu a intervir (e mal): a cultura popular e tradicional.
E assumir um orçamento para a cultura digno desse nome. Esse foi o compromisso que Guterres não cumpriu com Carrilho e que levou à sua demissão. Um dos primeiros achados políticos da intervenção de Carrilho e de Vieira Nery foi descoserem-se do discurso miserabilista do não há dinheiro para aumentarem significativamente o orçamento para a Cultura com as verbas do PIDDAC, estruturando desde logo, mercê da própria natureza dos financiamentos comunitários, a actividade cultural a mais longo prazo.
Claro que o Carrilho foi o melhor ministro da Cultura dos últimos dez anos, se calhar pós-25 de Abril. E então?
O que está em causa é que com Guterres ou com Sócrates, o PS nunca teve um interesse especial pela Cultura, o que de resto é fácil de constatar pelo miserável orçamento que sempre lhe concedeu e pelas manifestações pífias de cultura pimba que os sucessivos governos "socialistas" promoveram. Este é que é o ponto. Sócrates é mais um "arrivista" que, para além de não ter princípios, é inculto. Que lhe importa que esteja lá a Pires de Lima, ou outra pessoa? Nada. Desde que seja "rentável" (leia-se: dê poucas despesa e não conteste a política dominante ) qualquer nome serve. E depois, durante as "cimeiras", basta convidar a Mariza (esse novo ícone da lusitanidade) para convencer o "zé povinho" que temos cultura...fadista.
Por isso Carrilho (para além do seu "ego") bateu com a porta. Como bateu, por causa dele, o Rui Vieira Nery. O resto é paisagem...
não sei qual é que é o ponto, o que é que está em causa ou o que é a paisagem. presumo que para si sejam coisas diferentes do que para mim. eu só sei que efectivamente houve, no pós-25 de Abril um travo a política cultural desenvolvida durante um magistério político socialista e que há alguns artistas, intelectuais, produtores e criadores artísticos, que o vêm agora relembrar, pedindo que o Partido Socialista salvaguarde esse património político. isso para mim é que está em causa, esse é que é o ponto. o resto para mim é paisagem, folclore, generalizações, fulanizações e personalizações da política que não me seduzem por aí além. haja bandeiras para todos os gostos, meu caro.
Uma andorinha nunca fez a Primavera. Confundir a política cultural de meia-dúzia de personalidades com a política cultural de um governo (neste caso o PS) é pensar que estes governantes estão mais interessados noutro tipo de cultura do que aquela que é promovida actualmente. Por não estar interessado noutra política cultural é que este governo (e outros anteriores) sempre promoveu o populismo e dirigismo que caracterizam as suas acções. Ou não será assim?
Se Sócrates fosse uma pessoa com sensibilidade cultural (que não é) há muito tempo que esta ministra taralhouca tinha sido substituida. Mas, para quê? Para pôr lá outra igual? Não vale a pena e por isso é ilusório o abaixo-assinado que por aí círcula. Este é o ponto e tem pouco a ver com "bandeiras". De resto, todos nós temos "bandeiras", a começar pelas bandeiras da ilusão...
meu caro, espero que pelo menos tenha ou venha a perceber que esse é tanto o seu ponto que até torce a conversa até ao local onde a si mesmo lhe pode parecer razoável continuar a argumentar. É que para si o problema é a (in) sensibilidade cultural deste governo e em especial de quem o lidera. Esse é o ponto, o seu ponto.
Para mim o ponto é que é um facto histórico que, de 1995 a 1999, Portugal teve uma gestão onde há o vislumbre de uma política cultural que - podendo ser melhor, aperfeiçoada, corrigida- assenta em estratégias a longo, médio e longo prazo. A seriedade do trabalho feita nesse período que, passaram oito anos, e independentemente da política de camartelo que tanto os governantes do PS como do PSD que se lhe seguiram tomaram, ainda não a conseguiram demolir por inteiro. Olhe, tem aí outro ponto, meu caro amigo. A generalidade das actuações políticas na cultura evaporavam-se, sem esforço, no minuto seguinte às mudanças ministeriais. Neste caso vieram os buldozers, os camartelos, as picaretas e, olhando-se a forma como vive a nossa actividade cultural, ainda se percebe o que se passou entre 1995-99. E quanto às andorinhas que não fazem a primavera, olhe para o caso de Almeida Garret e deixe-se de frases feitas, meu caro. Também eu vibro, por outras razões, como o brechtiano poema de "Quem construiu Tebas, a das Sete Portas?", mas aprendi a reconhecer, como um factor de esperança, a possibilidade que um só de nós tem de imprimir mudanças profundas no seu mundo. Ainda hoje as bases que Garret lançou para a actividade Teatral estão de pé...
"A seriedade do trabalho feita nesse período é tanta que", queria ter escrito...
Lamento desiludi-lo, mas citar o período 1995-1999, é assim a modos como aqueles benfiquistas que pensam que estamos nos anos sessenta. Só que esses anos já não voltam mais. Nem no futebol, nem na Cultura do PS.
Caríssimo último anónimo, acho que ainda não percebeu uma coisa fundamental: o período de 1995-99 como se prova pela petição em causa nesta conversa, não pertence ao PS. É da nossa história, é da nossa comunidade. E que eu saiba muito do PS gostaria de o ver jogado para debaixo do tapete. Por isso a sua metáfora do futebol não me convence. Se o que aconteceu há menos de dez anos já é museu político para si, fico curioso por saber quais são as suas referências...
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