Contra o Fim do Ensino Especializado da Música em Portugal é o título de mais uma petição que corre na internet.
Confesso que lidos os argumentos dos promotores - e onde se incluia a exposição dos pressupostos argumentos do Ministério de Educação - assinei de imediato. Não é coisa habitual em mim. Em primeiro lugar por uma questão ideológica, prévia. Por maior revisão que eu faça do meu tomo "O fim das ideologias", no espectro político actual a minha simpatia prévia vai para os governos socialistas. Depois, ou ainda, num pequeno grupo onde por vezes caio na esplanada da Graça, sou conhecido pelo defensor da ministra da Educação e isto não porque a defenda mas apenas porque passe o pau de marmeleiro com que ali se zurze nela, forte e feio. Por fim porque é míster da retórica, quando a olhamos com alguma boa vontade e até ingenuidade, que os argumentos de cada um nos apareçam como consistentes, fortes, convincentes e até, demolidores. Ora para isso seria necessário consultar as posições do Ministério da Educação - coisa a que vos aconselho - o que não fiz. O que também é sintomático.
Tenho algumas boas razões para isso. O ensino artístico é um parente pobre da família de opções educativas que o Ministério porporciona e não me surpreende. Ainda há relativamente pouco tempo a direcção de serviços na área do ensino artístico do ME foi desactivada e todo o trabalho por ela feito nesse campo passou para a área da formação. Na mesma altura em que havia um real desinvestimento nas práticas de expressão dramática e teatro nas escolas do secundário, já se anunciava o incremento da expressão dramática no primeiro ciclo. Ainda me lembro quando em 1992, no 1º Congresso Mundial de Teatro e Educação, um dos momentos altos diante de uma plateia com cerca de quatrocentos especialistas vindos de mais de quarenta países, foi quando Joaquim de Azevedo, já enquanto secretário de Estado, fez uma autêntica profissão de fé no ensino artístico. Quinze anos depois apercebo-me que há uma enorme regressão de confiança nas verdadeiras intenções do Estado por parte dos agentes educativos empenhados nesta área.
3 comentários:
Eu também não li os argumentos do ME nem sou professor de música. Por isso não reflicto, não fundamento, apenas "acho": só acho que falta ensino artístico em massa para TODAS as crianças e TODOS os jovens portugueses, independentemente dos dotes, talentos ou aptidões de cada um. Ensino artísitico enquanto conteúdo estruturante da formação e do desenvolvimento do ser humano. Também "acho" que o actual ensino especializado tem estado entregue ao pessoal do "métier" e isso é mau, como sabemos: tem-se dirigido para a "caça aos talentos" e não me parece que seja a melhor forma de o fazer. Pronto e peço desculpa.
Por mim não tens de pedir desculpa e és bem vindo sempre.
Concordo com parte do que dizes, embora te baseies numa ideia que, ela mesma, é paradoxal nos termos: ensino artístico em massa. Mas a contradição, e o paradoxo, não é teu, é desta relação entre arte e cultura, entre educação artística e expressão artística. Por isso mesmo, a menos que se queira fazer a apologia de um modelo através da anulação do outro, não sei porque carga de água é que as duas coisas não podemos coexistir...? E até, alimentarem-se...de certeza que nessa cadeia pedagógica os que trilham os caminhos do ensino especializado poderão vir depois a participar num nível de sensibilização e de dinamização da música. Mas sou como tu, um achista...
Ok. Claro que o ideal é a coexistência - JÁ! - de um modelo "massificado" com vias de aprofundamento para quem o desejar e... puder. Mas não estamos a discutir "modelos teóricos": estamos a discutir decisões políticas concretas, em circunstâncias concretas com 20, 50,100 anos de atraso. Provérbio oriental (acabado de fazer): não podes emendar o passo se não começares a caminhar.
(P.S.: (honnit soit...): não vejo contradição entre "educação artística" e "expressão artística": vejo articulação, níveis de concretização de expectativas pessoais e de realização técnica e... artística.
Sobretudo vejo uma enorme e abjecta ausência de educação/expressão/fruição artísticas no povo português.`
E é sempre preferível criticar alguma coisa que está a ser feita do que criticar a falta (quase) absoluta.Abraços.
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