A propósito da política, da questão política, da forma como falei da minha descrença desta nossa constelação política resolver os problemas fundamentais da nossa vida, lembrei-me de uma pequena história. Há uns tempos reencontrei aqui um amigo de adolescência, o meu primeiro grande amigo quando cheguei à capital. Quando nos encontrámos pela primeira vez eu tinha vindo de Mafra, da terra verdejante, ele de Angola, outros trópicos. Eu ainda não sabia muito bem o que era viver num prédio urbano, assim, um caixote com elevador e divisórias, de um lado e do outro. Devo-lhe aliás muito da alegria com que fiz a transição entre o campo e a cidade. E brincámos às revoluções, claro. O reencontro quase vinte anos começou com uma conversa, no gmail, onde também se falou da política. Ele tentava nitidamente chocar-me e até, provocar-me. Não era preciso manual de instruções de alguma espécie para subentender que parecíamos estar nas antípodas de um posicionamento político. Só que ele a certa altura deixa escapar a ideia chave que me revela que era o mesmo tipo de há vinte anos que eu tinha do outro lado do gmail: "- acredito que a política é a mais nobre actividade humana." É exactamente o que eu penso. A política é a nossa prática de superação da violência. O lugar da ciência do projecto, da evidência racional, da discursividade, da procura do entendimento. É nesse lugar que tudo me é possível.
1 comentário:
A política. Pensei ir buscar esta citação tomada por Sena para epígrafe a uma das suas obras: Presentemente o poder dos demónios e dos maus é limitado. Não podem fazer todo o mal que desejariam. Está escrito que "os maus giram em círculo". Depois de terem feito algumas evoluções, voltam sempre para o ponto, de onde partiram. (História do Anticristo, traduzida por um Pároco do Patriarcado, Lisboa, 1869).
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