quarta-feira, março 19, 2008

Agricultura urbana

Ontem ao descer do Chiado descobri uma casa de sementes e produtos hortícolas. Andei por ali a planear sementeiras, transvases, regas. A perguntar pelas técnicas de cultivo. Pela disposição no canteiro. A distância entre sementes. Primeiro fui colocando vários pacotes no balcão. A dona da loja ia ficando cada vez mais loquaz, mais solícita. Até me explicou com desenhos, como deveria atapetar com as mãos as sementes de óregãos, as quais devia depois pulverizar, só para deixar a terra húmida. Nas suas palavras as pequenas sementes adquiriam uma fragilidade e uma sensibilidade quase humanas. Temos freguês!, parecia pensar enquanto eu ia colocando, de um lado, com método, as ervas aromáticas, de outro as verduras e por fim as flores. Aquilo já daria para quase um hectare, muito mais do que os setenta metros quadrados do meu pequeno quimtal. Depois, à medida que ia percebendo as dificuldades técnicas, fui retirando saquetas. Por último, sob o olhar desolado da minha anfitriã ao país da agricultura urbana, só restou os óregãos, o poejo e a alface maravilha de inverno, que se safou pela declinação poética do seu nome. Lá lhe disse, vou experimentar com estas que já percebi que a terra tem a sua arte. E já à saída, acrescentei uma uma enxada ao rol das compras, para lhe minorar o seu desgosto. Lá fui, todo contente no 28, devorando a literatura hortícola.

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