Ontem quando choveu acelerei o passo para casa. Era um apelo. Apeteceu-me aquecer um chá e ir ter com os meus mortos. Acontentar-me com a minha tristura. Ficar a olhar a vida pela vidraça, os caracóis no muro, a mesa e as cadeiras molhadas, sentir frio, repercurti-lo interiormente. Se um dia me vierem dizer que isto é uma forma de loucura, eu aceitarei. Prefiro esta vida entre cá e lá do que a ausência de mim que é o esforço de me despovoar de todas as imagens interiores que construímos juntos. Depois, de repente, o céu coloriu-se de cores várias. O arco-íris é uma ponte entre dois mundos.
2 comentários:
Ouvem-se ao longe os sons que me ajudavam a adormecer nas noites quentes do sul. Ouço-os nas memórias dos dias ensolarados e felizes ainda mais quando corria uma brisa fresca no fim da tarde. Na soleira da porta fazia escorregar entre as mãos pedrinhas ouvindo-as cair no chão de terra por entre os latidos dos cães e o vozear das gentes ao longe. Ou seria perto? Olho para dentro de mim como se fosse um monumento raramente visitado e vejo a esquadria do casario branco perfilado ao longo das ruas estreitas. É a alma que me habita. E as vozes dos que me amaram ressoando no fundo dela. Um dia visitá-los-ei olhando-os com o tímido sorriso de outrora. Sou eu de regresso ao meu mundo amado. Só depois de mim virá a felicidade.
[9/4/2008]
Que bonito, Eduardo!
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