Talvez não tenha crescido tanto como isso desde a infância, um metro e oitenta não é uma distância muito grande entre o chão e o alto da moleirinha, mas há outras maneiras de ver a mesma coisa: se medir esse crescimento pela quantidade de vezes que olho o céu, que me maravilho com as estrelas, que me conjugo com o universo inteiro, então tenho de reconhecer que devo andar pelo mundo muito cheio de mim. Ontem fiz uma daquelas coisas que há imenso sonhava fazer mas que, por uma razão ou por outra nunca tinha feito: comprar um telescópio. Depois dele montado, e estou a abreviar muito a façanha, fomos para o quintal à cata de estrelas. Ela foi a primeira a descobrir um planeta onde eu antes só via escuridão.
- Não podes estar a ver nada. Está tudo escuro.
Um movimento de aproximação posterior e apercebi-me que a escuridão era provocada pelas minhas sobrancelhas coladas à lente. É preciso um certo afastamento da lente. Ainda tivemos ali um pouco a sobreviver ao invisível: era ela quase sempre que descobria os planetas, ajustava o telescópio e eu, depois de os confirmar, baptizava-os. Mas depois quisémos ir mais longe: estava uma lua magnífica sobre o dorso do rio e parecia tão perto, tão perto, que se tornava imperceptível. Era um clarão de luz. Primeira lição de astronomia: ver o invisível, perder o vísivel. Por este lado, e estou a descrevê-la como o principiante dos principiantes, a astronomia parece cada vez mais um trabalho poético.
4 comentários:
O que me estás a dar é ideias sobre formas criativas de namorar, bem mais que astronomia :)))
~CC~
Seja namorar,seja passear pela poesia,tudo isso vai beber nas estrelas. E são gulosas as estrelas...
Abraço
E preciso que me ensines onde é a cassiopeia, quando aí voltar espero que a lição já esteja estudada.
Este texto sereno só podia ter-se inspirado nas estrelas, bjs
Enviar um comentário