Escasseia-me o patriotismo, confesso e ofereço-me já para o inevitável chicoteamento em praça pública. Por uma questão qualquer - que não é genética nem geneticamente transmissível esclareço já aligeirando os costados dos meus ascendentes e descendentes - sou imune a todas as manifestações de consonância pátria diante dos onze cavaleiros da bola redonda da era moderna. Convidem-me para todas as peladinhas que puderem: jogarei até ao sol posto. Mas não traduzo futebolês: quando ouço dizer que Portugal ganhou ou perdeu, que Portugal isto e aquilo, que os portugueses frito e cozido, ajustando-os a todos pelo simpático elenco dos onze valentes que com a camisola das quinas andam a correr atrás de uma bola, arquivo toda esta euforia - com uma imensa carga disfórica - na categoria de pão e circo. Para mim Portugal e os portugueses serão outra coisa, que, diga-se em abono da verdade, não sei qual é. No entanto quando leio isto, embora sendo um leigo em economês, só reconhecendo algumas palavras como OCDE, crise económica, sinto logo vontade de entrar na próxima casa de utilidades e quinquilharias que os simpáticos senhor Ling e senhora Lang abriram aqui no Largo da Graça e comprar uma bandeirinha portuguesa.
[Miguel Gaspar hoje na última do Público glosa este mesmo tema e perspectiva. É uma coincidência mas agrada-me. Não só porque muitas vezes me agrada o tom reflexivo que ele coloca nos seus textos, também porque a sua prosa, sendo a última antes das férias, se integra naquela literatura pré-férias. O que, no meu caso, me dá consentidas esperanças de que este Julho seja afinal tão breve como um ai, um quebranto]
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