quinta-feira, junho 26, 2008
Folk Justice
Nunca confiei neste homem. Em grande parte porque tenho uma tendência natural para detestar os aparentemente bem sucedidos na vida, os que parece que nasceram em berço de ouro, aqueles que conseguem perpetuar o berço com a vida dourada. Está-me na massa do sangue a inveja e, combatê-la, é, desde sempre, um dos meus trabalhos de personalidade mais exigentes. Também desconfiei dele enquanto dirigente do Benfica. Desconfio de todos aqueles que vão para a presidência dos clubes de futebol para darem os seus milhões (seja em contos seja em euros). O futebol é uma máquina de fazer dinheiro e, algum dele, ílicito, pelo que, no meu modesto entendimento, aqueles milionários que estejam genuinamente imbuidos de altruísmo encontrarão - antes de se atascarem no futebol - muita obra social ou religiosa para exercerem a sua mais pura filantropia. Desconfianças à parte: a forma como se tratou este caso, tendo a imprensa dita séria ido atrás dos reclames da assumida menos séria, é sinal de que algo vai podre no reino da Dinamarca. É irrelevante para o caso em questão, o exercício da justiça, se ele mora numa mansão de cinco andares ou num casebre térreo, se se conduz numa carripana em segunda mão ou num Bentley com motorista, se vai a festas ou se vê ténis ou se anda a mendigar pelas ruas. Isso é o que se chama atirar areia para os olhos do povo ou tentar manipular os seus sentimentos. Até porque numa coisa Vale e Azevedo tem razão: mesmo que ele seja um crápula para a sociedade, digo benfiquistas, credores, aqueles a quem lesou e terá lesado, há coisas que não se compreendem, e uma delas é o arrastamento deste homem pela barra dos tribunais e pelas prisões portuguesas. Leio que já esteve preso seis anos. Por mais graves que tenham sido os seus crimes económicos a justiça não o poderia tentar julgar de uma vez em relação a todas as suas pendências? Senão parece que a justiça está a - involuntariamente creio - ajudar a eternizar a figura do bobo da corte. Mais uma vez Vale e Azevedo tem razão: o episódio dos seus quinze segundos de liberdade (deviam ser punidos os agentes da justiça que permitiram que ele fosse achincalhado publicamente, a folk justice ainda não é género de cultura popular subvencionada), apenas pode dar algum gozo a pessoas como eu que, manifestamente, o detestam por aquele seu ar de sonso e de protegido pelos céus e pela fortuna.
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