A proposta de que no preço da electricidade se repercuta o custo que a empresa tem com os consumidores não pagantes, é fabulosa, principalmente porque vem de uma entidade reguladora e porque se trata de um sector público. Não fosse já tudo suficientemente extraordinário: a DECO, através de um seu porta-voz vem dizer que vê com bons olhos a proposta porque assim o aumento não é encapotado, como acontece com os juros dos empréstimos bancários, que dissimulam o custo que a banca tem com os calotes. É claro que esta iluminária não pensou um minuto sequer que quando uma actividade apresenta resultados líquidos (e não brutos) de mais 422 milhões de euros, todos os custos necessários à produção dos bens ou dos serviços que presta já estão integrados e que, por isso, fazer repercutir o preço dos incumpridores no preço da electricidade é uma segunda taxação e até, dado que se trata de uma empresa pública, de um imposto disfarçado. António Mexia esfrega as mãos de contente. Quanto mais lucros a empresa tiver mais legitimidade tem para os seus rendimentos milionários. Embora neste caso um possível lucro não tenha vindo do suor do seu rosto mas da fumigação cerebral da entidade reguladora, com o aval da DECO. Mas esperemos. Gente tão iluminada decerto não perderá muito tempo a fazer um novo parecer, aconselhando que no preço da electricidade se reflictam também, positivamente, os lucros do sector. [ Imagem daqui]
2 comentários:
no período pós-privatizações-Tatcher em Inglaterra, durante a crise que se seguiu, uma das evidências mais dramáticas desta última eram edifícios onde todos os seus habitantes tinham deixado de pagar as contas de água e luz. a situação era calamitosa, medieva, como bem explicou o Goldsmith fundador da revista The Ecologist, num congresso a que assisti em 1996. negócios como "se desisitir de ser avisado do corte de água durante uma reparação, baixános a sua conta em x...", ou sejam, negócios para diminuição de direitos dos consumidores, eram também outra estratégia comum. como também relatou o incrível aumento de acidentes ferroviários, antes impensáveis, e a depauperação dos recursos aquíferos. tudo em nome da economia de mercado, da redução de custos, da redução de pessoal...
acho que só nos resta encontrar soluções energéticas alternativas 8assim como o teu jardim de alfaces), porque todos se preparam para nos levar o couro e o cabelo. e no dia em que o fizermos, cobrar-nos-ão uma taxa por isso.
O que a blue propõe é quase um "desenvolvimento sustentado compulsivo", sem consciência que resulte numa prática efectiva, mas a ideia não me parece má de todo. Quanto à Edp, voltamos à questão dos monopólios, se não fosse a única não ousaria. Resta-nos resistir, mas as medidas são cada vez mais absurdas
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