sexta-feira, junho 20, 2008
Victor Wengorovius - a vida vísivel
As nossas vidas seriam mais vidas se fossêmos mais vezes aos jardins - nem que seja aos da nossa memória - povoá-los com o ritual da evocação. Evocar não será recordar. Foi um encontro de fim de tarde de verão como o deveriam ser todos os encontros. Havia verde, havia silêncio e houve também quem o rompesse. Havia um círculo mas fora do circulo havia outro e ainda outro. E havia gente que tinha ali ido só para sorrir em comum ao evocarem um de entre eles. Um pedaço da história ao vivo: a ditadura, as prisões, a revolta dos estudantes, a resistência. Estava ali o poder, governo, oposição, esquerdas disto, esquerdas daquilo, sindicalistas, juristas, deputados, intelectuais, mas não estava nada disso. O que de mais forte vi, foi uma consciência de que houve um momento em que a nossa vida podia ser outra coisa e que esse momento é quase agora outra vez, de outra maneira, com outras pessoas, mas quase agora outra vez. E que para o reconhecermos precisamos de voltar aos fins de tarde no jardim, ao desatar dos laços da gravata, ao deslaçar dos nós que são aliás a nossa própria vida, de tal forma que os deslaçamos com novos nós e um dia a morte será isso, os laços que persistem. Só me lembro que era tarde, ao fim da tarde, estava calor, sentei-me na relva, a olhar todos aqueles que estavam ali para estar com o seu amigo Vitor, soube, o da voz cheia, o que nunca se calava. Na esquina do outro lado as mesas estavam postas para o jogo, as pessoas postas para as mesas mas a cinquenta metros ainda estávamos num outro país.
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