domingo, agosto 17, 2008

Mudanças

Ontem até às cinco da manhã para encaixotar tudo. Demorámos 12 horas a meter uma casa dentro de caixotes de cartão comprados no Aki, tamanho Xl e L. Ela tinha pensado em fazer uma daquelas soluções cheva na mão: vão a casa, embalam, mudam, desembalam e depois vão-se embora. Não era muito mais caro. Cerca de cem euros. Às quatro da manhã, já não havia mais papel de bolhas para embrulhar os quadros, a fita castanha, a mágica fita castanha estava no último rolo, ela desabafou:
- Quem foi que me convenceu a não querer que eles embalassem tudo?
Eu quase sem argumentos. Tinha corrido tudo bem demais e ao desfazer uma casa fiquei mais uma vez com a sensação de ter encontrado a pessoa com quem quero um dia construir uma nova casa. Mas quase sem argumentos. As pernas cansadas. A cabeça. O pensar que no dia seguinte às oito e meia da manhã iriam entrar por ali a dentro quatro estranhos para levar o de dentro que uma casa é. E de repente o chegar à janela. O olhar sobre aquela vista desafogada até ao Hospital de Santa Maria. Lembrar-me das manhãs radiosas de sol, em que ía dar aulas para a escola, no Hospital, e conferia o lugar na mesa do pequeno almoço. Eu tinha muito menos memórias do que ela e mesmo assim já estava a engasgar-me, comovido. Fui ali muito feliz. As bailarinas de Matisse, desnudas, sobre a cama. Lembro-me, nunca me esquecerei que fiz delas as confidentes das minhas mais íntimas e maiores descobertas.
Ela veio ter comigo, ao pé de mim, da minha angústia. E eu, ali, ao pé do meu argumento:
- Se entregasses o embalamento a uma empresa, quem é que às quatro e meia da manhã ía sentir este aperto no peito ?

4 comentários:

@na disse...

é... de facto há coisas que não devemos entregar aos outros para fazerem por nós.

Anónimo disse...

Eu fiz há pouco tempo umas mudanças com um aperto no coração não partilhado. Uma vida a 2 dividida via sms e empacotada em caixotes pedidos nas traseiras das lojas.
Da janela da nova casa não se vê o HSM, mas a sua presença adivinha-se, lá no canto, como quem diz "cá te espero".

JOSÉ RIBEIRO MARTO disse...

ora aqui está como é... aqui há pacotes e empacotar e desempacotar , nada de embalarnem nem desembalar... onde foste buscar essa ?
Às vezes é preciso desfamiliarizarmo-nos com a língua, para nos encontrarmos nela !
Já percebeste que hoje estou implicativo , e sabes por que razão... Nunca passaste no meu canto , e acho isso merecedor de um grande murro , isto é um abração quando te encontrar !

Abraço amigo
Zé marto

JPN disse...

mas eles, enquanto empacotam e desempacotam, também embalam, Zé!!!
:)
venha de lá esse mu...abraço...