sábado, setembro 13, 2008

O primeiro ouvinte

Ontem ao deitá-lo tirei-lhe o livro da mala e coloquei-o na mesa de cabeceira. - Queres que o leia?
- Sim.
Ele percebeu que eu queria lê-lo. Era como se retomasse um vínculo. Há sempre uma relação a refazer. Nos primeiros momentos ainda me chama de mãe e agora, tio.
- Tio?- repito eu com um sorriso matreiro. Ele já nem se justifica. Encolhe os ombros, como se dissesse, são vocês que fazem os dias assim. A sua rede de afectos estabilizou e aplacou os seus receios construídos com os arquétipos das histórias infantis. O padrasto, a madrasta. Começo a ler a história. Gosto de ler em voz alta. Gosto de ler poemas, de ler histórias. E leio bem. Durante muito tempo evitei ler, por timidez. Hoje penso em começar a fazer trabalho comunitário: ler histórias, ler romances em voz alta, semanalmente, difundir a literatura. À borla. Apetece-me fazer coisas à borla. Apetece-me estar com as pessoas e estar com elas em torno de livros. Ele é o meu pequeno banco de ensaio. O meu primeiro ouvinte.

3 comentários:

Cristina Gomes da Silva disse...

Lê lá para eu ouvir! Pode ser num banco de jardim? Beijitos

Ana disse...

E eu gostava de te ouvir ler. Não duvido que o faças bem. É um... apetecimento :-)

Doramar disse...

Espero ter o privilégio de ser a segunda ouvinte :)