segunda-feira, outubro 13, 2008

O amor instável

Eu pensava que já tinha aprendido muito sobre o amor. Tão ingénuo que fui, tenho percebido agora. Nestes dias em que o meu coração parece um vaso ora vazio ora dilatado quando olho pela minha janela à procura de evidências da presença dos gatos-bébés. Ontem durante a tarde a casa esvaziou-se. Fiquei triste. Apeteceu-me chamar ingrata à mãe-gata. Em vez disso pús-lhe comida. Quando nos deitámos contei-lhe, a mãe levou os nossos bébés. Chorámos os dois, em silêncio, já a noite ía alta. Por mais estranho que possa parecer nem eu nem ela nos ouvimos chorar a nós mesmos, mas tanto eu como ela jurámos que ouvimos o choro convulso e silencioso do outro. De manhã, quando acordei, estava a mãe-gata e dois dos seus filhotes. Exultei. Acordei-a com um beijo e a boa notícia: os nossos bébés estão de regresso. Era ainda cedo, tinha uma aula à oito da manhã, mas era já tão tarde, era já outro dia dentro de mim. E dei por mim a pensar e a descobrir que nunca aprendi que do amor me faltava algo de essencial. O amor final só se nos revela quando nos afeiçoamos por gatos vadios.

1 comentário:

Doramar disse...

Acho que a mãe-gata também já está a afeiçoar-se :)