sábado, outubro 04, 2008

"Por onde fazer passar o tempo? Deus, o amor, a arte, a política, a aventura, o trabalho, o negócio, o sacríficio, a amizade, o prazer, a solidão, o corpo, o espírito, a dedicação, a preguiça, a linguagem, o silêncio, a linguagem do silêncio, a tarefa, a desobrigação, a prudência, o risco? Qual a chave para isto, como entender o desamparo, como representar o último cansaço, o rictus, a casa abandonada, a festa fantasmática? E o que fazemos com os outros, o tempo dos outros, com eles, para eles, contra eles? Em que sítio estamos, na malha do tempo? Seremos unicamente a sua imagem turva, espessurra impodenrável, recorte em movimento, ilusão química? Esboços em trânsito, fragmentos à procura de unidade, indecifrável harmonia universal, os pés no chão, a ideia na montanha, toupeiras alpinistas, irmãos de criminosos, de santos, de egoístas alucinados e de solares fraternidades? E depois há os imprevísiveis sinais do tempo, os que, impiedosamente seleccionam: o desgosto, a falta, a doença, o desencontro, a dependência, o erro, a quebra de força ou da vontade, as sombras afastadas da alegria. E as mortes onde vamos ficando. E as vidas que as substituem, mas que não substituem as nossas perdas, tão magoadas, tão nossas. Este é o tempo que dispôe de nós, o veneno na veia, o ácido no espelho e a luva da coragem, insolente, batendo-nos na cara. Exigindo a herança que deixámos. E o tempo é:
esta criança que olha para mim, que transmite o mistério que a perturba, e que reflecte o meu próprio mistério. O tempo é esta criança, esta criança fui eu;
Gráfico de Vendas com Orquídea
Vou à estante procurar o Gráfico de Vendas com Orquídea. A contracapa de cartão está dobrada nas páginas 58/59. Já não me lembro da última vez que o li. Comprei-o em Nov de 99 para merecer a dedicatória do autor, numa sessão de lançamento da FNAC.

Sem comentários: