"É um grande paradoxo: não se pode viver com o ódio de si próprio sem se fazer nada contra ele. Mas, encarado de frente, confrontar-nos-ia com a dor sobre a autotraição cometida. Por isso é negado. A contradição entre a necessidade de salvar a face perante si próprio e a prontidão em pactuar com o poder pela subjugação é, por isso, a cisão mais fundamental, e talvez a primeira, da alma humana. Não é um mero recalcamento, é uma cisão radical, uma separação da consciência do Eu sacrificado e do ódio de si próprio daí resultante. Isso transforma-se no princípio básico de toda uma vida. Tal cisão faz parte de, e é sustentada por, uma ideologia social que identifica obediência com responsabilidade: ser obediente significa ser bom, e ser bom significa ser responsável. Ser livre, no entanto, significa desobediência, e quem é desobediente provoca desgosto e candidata-se a perder a protecção dos poderosos, ou a hipótese de participar do seu poder.(...)"
1 comentário:
Aqui discordo. Vejo a responsabilidade como um atributo da consciência, dissociado do bem e do mal. Não consigo entender a responsabilidade como acto de obediência, até porque esta última é uma atitude de subjugação e, contrariamente ao autor, entendo que só em liberdade se pode ser responsável. Ser responsável implica agir e assumir as consequências dessas acções. Quem consegue fazer isso em cativeiro, em estado de obediência, onde a primeira coisa a ser tolhida é a liberdade de acção ?
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