terça-feira, novembro 25, 2008

24 de Novembro de 2006

Há dois anos eu não era este. Era outro, mais feliz porque vocês estavam aqui, porque da Rua do Terreirinho ou da Rua da Graça à esplanada era um pulinho, e porque eu gostava de vos abraçar, de rir convosco. Gostava até das parvoíces que dizíamos juntos. O aboborar diante de uma green com a cidade toda nossa, ali escorrendo-se até ao rio. Era outro mas também, menos quim. Menos sofrimento, menos desespero, menos tristeza e menos, muito menos amor. É no amor e não na felicidade, que eu sou/serei o quim. Tenho a certeza. O meu ódio, a minha raiva, a minha angústia não o consegue esconder das minhas percepções mais profundas. Não é de hoje, nem de ontem, já o sabia até quando estavam comigo, embora só o saiba agora desta forma irrecusável : a minha felicidade não é senão uma ficção que o meu ódio, a minha raiva e o meu medo forjaram para não me deixar ver a luminosidade do verdadeiro quim. Só serei verdadeiramente o quim quando todo eu for amor, dádiva, entrega, compreensão, empatia. Entre a traição à vossa amizade e a traição ao eu - mesmo sabendo que pode bem vir a ser uma batalha perdida porque o trairei mais à frente de um outro modo, num outro tempo e lugar - escolho a primeira. Imagino que lá no lugar onde estão, e reparem, eu inventei uma eternidade apenas para vos poder reeinventar, todas estas coisas são luz que sangra, escuridão que deixa ver. Havemos de brindar a isso um dia quando os cães me vierem buscar a mim também.

3 comentários:

Ricardo Salvo disse...

Acho que é isso também. De repente, não há como fazer de conta que a eternidade existe. Para contornar o abstruso conceito de "fim".

Doramar disse...

Na verdade acredito que a luminosidade do nosso verdadeiro "eu" é ofuscada pelo medo de sermos felizes, e que para sermos felizes temos que cumprir o nosso ser individual. Que te cumpras como proferes, "pelo amor, pela dádiva, pela compreensão e empatia". É a essa plenitude do teu ser que eu chamo de felicidade.

IPQ disse...

Querido quim, os nossos mortos estarão sempre num cantinho do nosso coração e o nosso amor por eles não acaba. um beijo grande para ti