Não sei se é da idade: já não tenho pachorra para ouvir falar em esquerda como se isso fosse uma password para abrir os corações eleitorais dos povos ressentidos com a perda de identidade das esquerdas. Olho e o que vejo: também os povos ressentidos da direita estão em luto permanente pela perda de identidade das direitas. Mas as esquerdas, dizia eu: afirmei aqui uma vez que o casamento de ambos os sexos era uma causa do BE porque o BE era um movimento politicamente conservador. É claro que se na altura estivesse a falar em linguagem inventada, entender-me-íam melhor. O BE é um caldo ideológico intranquilo que tenta viabilizar a conquista do poder pelos movimentos de extrema esquerda que nos restaram do 25 de Abril. É inegávelmente um bom objecto de marketing político mas é também politicamente uma incógnita. Se é o Rui Tavares ou a Ana Drago que fazem o turno de porta estandartes, é o BE sedutor, ainda menos corrompido pelo mal que a luta do poder faz a um pequeno movimento político. Mas e se é o Louçã ou o Luís Fazenda a supervisionarem o turno? A real politik vista pelo lado da antiga extrema esquerda é uma desolação quer na pose quer na substância. Eu sei, e tenho pena, que a necessidade que estes movimentos residuais da política portuguesa têm em conquistar o poder da democracia parlamentar seja porque o grande centrão político se respalda por todos os planos da vida politica e social e anula, aniquilando o contributo ideológico, político e social das minorias. Isso empobrece-nos e não necessitaria de ser assim. Quanto ao PCP, o que dizer? O PCP morreu. Já nem resiste sequer a uma piada. E o PS? O PS está a sofrer uma erosão de poder que pode vir a ser-lhe fatal. Muitos erros no governo, muito tardio reconhecimento dos erros cometidos, muita arrogância política. Como se nas democracias contemporâneas o voto de quatro em quatro anos não fosse todos os dias referendado por outros métodos de sondagem do estado da comunidade e os políticos não pudessem aferir constantemente o grau de eficácia e de justiça das suas políticas. Muito pouca capacidade do Partido fazer crescer dentro de si outras correntes de opinião. Os partidos, principalmente aqueles que têm uma vocação de poder (jargão político que serve demasiadas vezes, internamente, para aquiescer as vozes dissonantes) e que estão no seu exercício, deveriam cuidar também do seu caldo contra-poder, deixando de o tratar como se ele fosse um património exclusivo das oposições. Nos socialistas o fenómeno Manuel Alegre cresce e, curiosamente, enquanto o PS parece saber conviver mais ou menos bem com a diversidade politica da familia socialista e a integração do seu histórico, o seu histórico, deixando-se enredar pela sua concepção aristocrata da política, não parece saber conviver bem com a diversidade política do seu partido. Há alguém que lhe deve explicar que o capital político eleitoral que Alegre angariou na campanha presidencial não foi um mandato para governar o PS, nem o governo e que se ele está a pensar mais na forma de gerir esse património eleitoral então que ele vá fundar o seu partidozinho com os "rapazes do Doutor Louçã". Há aí uma crise das valentes a carenciar-nos de todas as alternativas políticas que nos ajudem a perceber a realidade de outra maneira. Isso sim, fornecer alternativas ao modo de vida das pessoas, é que é importante. E, já agora, de esquerda.
4 comentários:
JPN,não identifico as suas iniciais, mas queria dizer-lhe que me deu hoje uma alegria imensa: encontrar aqui uma alusão ao B-leza e ouvir aquela música. Que saudades! Fui lá muito poucas vezes mas guardo recordações fantásticas. Sabe se já houve a festa do Maxime, oferecida pelas ex-proprietárias? Perco sempre tudo, não há meio de me habituar a uma Agenda. Sabe? Abraço, Rita Ferro
Ainda bem, as alegrias são mesmo assim, para serem grandes. E quanto à festa, já houve várias mas ainda ontem foi a do aniversário do B.leza.
Pena, perdi. Obrigada. RF
Ora aqui está .... uma análise que dá gosto ler ... assim como ir indo e estando de acordo ... como se pudéssemos pelo meio assentir ... ahn ahn !
Bom de facto ....
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