Já li quase tudo o que encontrei disponível sobre o caso na net. Quando li as notícias sobre o tio de Sócrates fiquei alarmado. O comunicado do primeiro-ministro sossegou-me. A entrevista do então secretário de estado também. Espero os novos desenvolvimentos. Não aceito a tese da cabala. Aceitá-la seria ficar refém da incapacidade de promover a investigação só porque há um período eleitoral. Tudo tem de ser muito bem explicado e de forma clara. Todos nós sabemos que em negócios destes há muito dinheiro envolvido. Que há campo aberto para o tráfico de influências. Para a corrupção. Tudo isso não é novo e rodeia a acção política. E até a dignifica na acção dos que resistem à corrupção. Os que não lhe resistem devem dela afastar-se. Tenho uma visão absolutamente espartana da política. Escrevi isto ontem à noite. Hoje já li o Sol. O pouco sol que existe das páginas 4 a 6. A entrevista do tio de Sócrates é, a todos os títulos, ilibatória do papel de Sócrates. É claro que é preciso lê-la para o perceber. A aceitarmos que as palavras do tio de Sócrates sejam verdadeiras - e é no pressuposto que o são que o Sol entende ter ali matéria para uma caixa alta - o que é que ele diz: que uma pessoa das suas relações que estava envolvida no processo de licenciamento se lhe terá queixado de que lhe estavam a pedir 4 milhões pelo licenciamento. Ao que Sócrates lhe terá respondido que isso era rídiculo e indignado prestou-se a receber a pessoa. O tio não sabe se esse encontro existiu. Nem nunca mais soube do assunto. Mas não há nenhum vínculo de Sócrates a qualquer tipo de comportamento ílicito. Pelo contrário. Ou seja: tudo isto actua numa zona da comunicação política que é tenebrosa, a das ideias que temos das pessoas. Lê-se a entrevista, lê-se o texto da reportagem, e fica-se apenas com duas ideias: de que Felícia Cabrita não tinha nada de substancial e quis marcar terreno, antecipando a chegada de outros jornalistas a este caso, usando o facto de a entrevista ser com o tio de Sócrates; e a de que o Sol, em quebra acentuada de luminosidade, e de leitores, usou o facto de ter uma conversa com o tio do primeiro-ministro para aceder ao leitorado. Embora o Sol não se chame Smith, esta atitude poderia, nun livro de estilo mais rigoroso, ser entendida como tráfico de influência: mais uma vez o tio do ministro, agora primeiro-ministro, foi usado para se tirarem vantagens patrimoniais da sua relação de familiaridade com Sócrates. Seria melhor que continuassem a distribuir os dvds da pequenada. Ao menos não nos sentíamos tão ludribriados.
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