sexta-feira, janeiro 16, 2009
Jornalismo marcelino 1
Já houve um tempo em que eu tinha algum interesse em analisar o jornalismo que se fazia em Portugal. O que já não acontece. Comprei o DN de hoje unicamente porque quero amanhã ver a Prova de Morte de Quentin Tarantino e isso, para mim, não me dá nenhum direito de dar sermões éticos a ninguém. A verdade é que também é porque eu e muitos leitores deixámos de acreditar no jornalismo que estes produtos marados como o jornalismo marcelino chegaram à banca dos jornais. Mas sejamos justos. Não é só na banca dos jornais que deixámos de acreditar.
Não é portanto para analisar o jornalismo marcelino que, em tempos de posts minguados, faço sair logo dois de rajada. Queria apenas chamar a atenção para três aspectos:
1. Lê-se no blogue brutalidade policial que a imprensa constrói uma versão da realidade só a partir da versão policial. Injustiça de movimentos de extrema-esquerda? Leiam-se estas duas páginas, a 4 e a 5 do DN, todas elas construídas com um sopro da PSP. E ainda por cima com esta reserva:" Apesar de ainda não termos dados sólidos que nos permitam dizer que as organizações em Portugal já atingiram um nível de preparação semelhante ao de outros países da Europa, sabemos que se trata já de um embrião com grande potencial de violência". Eles não sabem, o jornal também não, mas é importante que nós lá em casa fiquemos desde já a saber que sim, que é verdade e que tal é terrífico.
2. As frases terríveis dos movimentos de extrema esquerda, ipsis verbis: " Vem protestar contra a brutalidade policial. Contra a violência do estado. Vem exigir justiça". E para que não restassem dúvidas sobre a violência com que pretendem retaliar, o DN publica aquilo que pode bem ser um Manual de Guerrilha Urbana (as aspas são do texto DN: " A plataforma apela aos "camaradas de todo o mundo" a contibuirem com donativos para ajudar "as despesas do funeral" do jovem, bem como a comprar as T-Shirts com a fotografia de "Kuku" em apoio à familia."
Mas não se ficam por aqui, como bem adverte o DN que foi mais longe na sua investigação e descobriu que "numa acção planeada para conquistar a simpatia da familia e amigos da vitima e recrutar apoiantes no bairro, o grupo convocou ainda dois jantares de "solidariedade".
3. Ainda não ouvi nenhum esclarecimento sobre as investigações a serem feitas sobre o caso. Pelo que pude reconstituir um grupo de adolescentes sairam do carro depois de uma ordem policial. Um deles trazia, alegadamente, uma arma na mão e por isso deram-lhe um tiro na cabeça. Como é que o jornalismo ainda não se preocupou em saber duas coisas: a arma existe realmente? foi apreendida e tinha as impressões digitais do adolescente que morreu? Ou sou eu que ando a ver CSI a mais ou esta questão resolvia-se facilmente e a especulação ficava centrada sobre o facto de um agente ter atirado à queima-roupa.
€spero não vir a ser incluido em nenhuma lista de blogues extremistas com ligações internacionalistas. Tenho alguns amigos espalhados pelo mundo que são anarquistas, alguns dos quais já pratiquei actividades subversivas como jantar, mas de resto, sou pela não violência.
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1 comentário:
Não sei, algum desses jantares foi para ajudar alguém? Hum?
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