Creio que foi anteontem. Estava a ver o Prós e Contras com aqueles personagens todos. Fátima Campos Ferreira estava trágica sobre o destino de Portugal nesta altura tão dramática. Ela é cada vez mais a nossa Oprah. A seu tempo. Entre o dito e o contradito, havia uma coisa que ficava muito clara: a oportunidade do programa, face à escassez informativa que produzia, só tinha alguma eficácia perante a possibilidade de Sócrates ter sido sujeito activo de corrupção. Coisa que pairava no ar. Só que havia uma coisa que ninguém perguntou: mantendo a mesma linha de suspeição sobre José Sócrates e aceitando os dados disponíveis - que ele só contactou uma vez com os promotores do empreendimento numa sessão pública - não parece disponível para uma racionalidade despojada de fé que ele possa ter sido corrompido sem a cumplicidade e o envolvimento do secretário de estado que conduziu todo o processo. Ora o mesmo estava no programa e não foi, pelo menos durante a larga parte em que assisti, confrontado com isso de uma forma clara. O que quer dizer que as pessoas que aceitam que seja possível que José Sócrates tenha sido corrompido através do seu tio e do seu primo não parece terem nenhum papel disponível para o Secretário de Estado que tinha competências delegadas no processo. É um pouco como o mistério do nascimento do redentor em que aceitamos todos os personagens, a mãe, o filho, menos o pai. Temos uma pomba. Provavelmente a chave do processo aqui também é uma pomba (o que condiz com o símbolo do Freeport). O que demonstra também que a ideia de que o primeiro-ministro está a ser objecto de uma campanha negra com interesses obscuros, embora seja muito simpática e generosa para a nossa comunidade ali tão bem representada no prós e contras, é dispensável, porque excessiva: um simples programa claro e com declaração de interesses públicos como o Prós e Contras serve para o efeito.
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