sábado, abril 25, 2009

Ainda estão vazios

Começo por montar e empilhar uma série de caixas vazias. É um ritual. Desta vez vou fazer um verdadeiro acto de fé. Seis anos de mudanças contantes deram para perceber o que preciso e o que não preciso. Aqueles videos que nunca mais verei, lixo. Os livros que nunca li nem lerei, vou dá-los. E roupa. Para que insisto em ter aqueles fatos no guarda roupa? E gravatas? Meu deus, eu já usei gravata! Vou deixar uma ou duas de lado. Por vezes, porque me desobriguei de usar gravata e casaco, gosto de surpreender e parecer um peru em dia de festa. O Pedro dorme, eu estou sozinho, andamos a desfazer duas casas. De repente tinhamos um esquentador, um frigorifico, um fogão, uma máquina de lavar roupa, uma cama, a mais. Os caixotes desta vez vão logo separados. Ainda só desfiz uma estante. Dramaturgia portuguesa, um caixote. Dramaturgia espanhola,a custo, os espanhóis editam muito, outro caixote. Dramaturgia europeia e da américa latina, outro caixote. Livros teóricos de teatro, mais um caixote. Romances, outro caixote. Poesia, mais um caixote. Desta vez não vou andar com caixotes durante muito tempo. Quero rapidamente ter tempo para escrever, para ler, para saborear o ninho. Apetece-me fazer um acto de fé na minha vida. Quereria mesmo queimar, fazer um fogaréu desatinado com papéis, recortes de jornais, bugigangas. Estou a ficar ansioso. Parece que estou noivo, ali, à porta de uma nova vida.

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