sábado, abril 25, 2009

E sempre que Abril por aqui passar...

Nunca me opús a que o meu filho fosse baptizado, porque a mãe dele me assegurou que nunca esperaria de mim que eu fosse um garante da sua educação cristã. Foi um acordo verbal só oficializado na altura do divórcio em que ficou determinado em notário as obrigações da mãe e do pai: à mãe caberia educá-lo dentro dos preceitos da santa madre igreja, enquanto que a mim me cabia explicar-lhe tudo sobre o 25 de Abril.
Iniciei as minhas actividades pedagógicas o ano passado e hoje queria levá-lo à festa.
- Ó pai, eu acho que é boa ideia e eu adoro festas à noite mas hoje não me apetece muito.
Fui então buscar o DVD do Público, em que há um documentário "As Armas e o Povo". Começa com Grândola, Vila Morena, de Zeva Afonso. Explio-lhe que o 25 de Abril começou na madrugada. Está impressionado com os tiros disparados pela Pide, com a multidão, com as forças armadas, com a história que eu lhe conto. Com o Teatro da Trindade ali no centro de todos os acontecimentos. Mais uma vez, diante de Salgueiro Maia curvo a cabeça, numa simples homenagem e digo-lhe, é um herói, é um herói deste movimento. Quer saber quem mandava, porque é que não havia liberdade para as pessoas dizerem o que queriam. Faz-me muitas perguntas, têm dúvidas sobre esta ideia de liberdade, de tirania. A seguir dá a saida de Caxias. E eu percebo que ao ver aqueles rostos felizes, em festa, a abraçarem-se, ele compreende num instante uma das dimensões mais importantes do que foi a revolução dos cravos. Depois, mais tarde, ao telefone hei-de vê-lo entusiasmado: - Sabe que hoje é um dia de festa porque as forças armadas libertaram o país? -