Leio aqui um texto em que o Eduardo fala da sua passagem pelo Quartel de Mafra em 1971. A imagem do Convento de Mafra está impressionada bem fundo na minha memória. Não tenho agora tempo interior para grandes viagens ao passado, mas aquela imagem puxa-me para dentro de um baú de memórias, de brincadeiras, de cheiros que não têm fim. Ponho-me a fazer contas, em 71 ainda estava eu lá. O meu melhor amigo era filho de um capitão e morava no Quartel o que quer dizer que todas as tardes, desde o fim das aulas até que a minha mãe acabasse de dar aulas ou a catequese, passávamos por grandes aventuras nos corredores frios de pedra, ou, no pátio, a espiar as filhas dos oficiais (no meu tempo de criança era raro os meninos brincarem com as meninas). Também, nos dias de juramento da bandeira, entregavámo-nos a uma pequena patifaria: com fisgas de arame e clips, fazíamos pontaria às pernas e partes baixas nos soldados. Era cruel, seu sei. Eles não podiam desmanchar a posição na parada e o máximo que podiam deixar transparecer era um esgar de dor e fúria. Os soldadinhos de chumbo eram assim praxados pela canalha. Começo a sorrir. Será que o Eduardo e o Raul estariam entre estes? Ou será que me cruzei com eles nos corredores do Quartel? Como é que eles viviam o ano de 71? A mim fascina-me este jogo na máquina do tempo quando de repente descobrimos coincidências, pequenos fios entrelaçados, puzzles com peças combinadas.
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